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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Saiba detalhes do uso do adoçante, como a diferença dos tipos encontrados


Márcia Neri

Com açúcar ou adoçante? A pergunta, que há duas décadas poderia causar estranheza, ficou corriqueira. Faz parte do repertório obrigatório dos garçons e garçonetes de restaurantes, lanchonetes e quiosques que servem sucos, chás, café e até a brasileiríssima caipirinha. O Brasil, maior produtor e exportador de açúcar do mundo, é um grande consumidor de adoçantes dietéticos. Homens e mulheres expostos ao sedentarismo, à obesidade e aos problemas decorrentes dessa combinação triplicaram as vendas do produto, que também passou a ser consumido por quem se preocupa com a boa forma e não quer ganhar pontos na balança. No entanto, a polêmica em torno da segurança das substâncias que substituem o açúcar vez ou outra vem à tona. Será que os consumidores sabem como, quando e em que quantidade elas devem ser ingeridas?

Nem sempre. A população do país, que é o quarto mercado consumidor de açúcar do planeta, ficando atrás da Índia, da União Europeia e da China, ainda se vê confusa sobre o produto ideal a ser adotado na dieta diária e qual a quantidade perfeita para deixar a vida mais doce, sem prejudicar a saúde. O açúcar é mesmo um grande vilão? Os adoçantes estão no mesmo caminho? Essas são questões que acabam deixando um gosto amargo de dúvida no paladar de qualquer um. Especialistas observam que aqueles que devem consumir adoçantes andam ingerindo açúcar e quem pode ingerir açúcar anda consumindo adoçantes.

A nutricionista e mestranda do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Juliana Shibao explica que o adoçante dietético é produzido a partir de edulcorantes, substâncias naturais ou artificiais responsáveis pelo sabor doce. Eles possuem um poder de adoçamento muito maior que o do açúcar da cana (açúcar comum) e são recomendados para dietas especiais de restrição, formuladas principalmente para diabéticos e obesos.

"Os adoçantes devem ser consumidos apenas com indicação de nutricionistas e médicos. Indivíduos saudáveis podem evitá-los", conta Juliana, que também é uma das autoras do livro Edulcorantes: aspectos químicos, tecnológicos e toxicológicos. "Na prática, isso não acontece há algum tempo. Porém, existe uma restrição mais séria para as gestantes e lactantes porque as diversas variações do produto causam reações alérgicas nos bebês. Crianças também não devem ingeri-los, a menos que estejam realmente acima do peso ou tenham diabetes", adverte.

Limite

De acordo com a especialista, embora os adoçantes sejam alvos de muitos estudos, nenhum malefício provocado pela substância foi constatado em pessoas que fazem o uso deles de forma controlada, ou seja, sem exageros. Quando ingeridos adequadamente, os adoçantes não fazem mal. O limite é estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e regulado no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. "Até o momento, o que se sabe é que, dentro desses parâmetros, a ingestão não é tóxica. Pesquisas apontam problemas de saúde em ratos de laboratório quando os limites são ultrapassados em mais de 80 vezes. São quantidades altíssimas, que dificilmente uma pessoa conseguiria ingerir. Recomendamos, então, que se observe a quantidade", pondera Juliana.

Fábio Gomes, nutricionista da área de alimentação, nutrição e câncer do Instituto Nacional de Câncer (Inca), alerta, porém, que estudos mais incisivos sobre os adoçantes vão surgir nos próximos anos, porque os efeitos dessas substâncias no organismo são lentos. "Muitas pesquisas realizadas até então são bancadas por indústrias que fabricam adoçantes. Elas analisam riscos imediatos. Mas temos uma série de revisões organizadas por instituições neutras que começam a dar evidências dos prejuízos e indicam um aumento na chance de câncer de bexiga em pessoas que os consomem por muito tempo. Portanto, a recomendação até o momento é que sejam usados com muita parcimônia", destaca.

Além disso, Juliana Shibao lembra que o consumidor não ingere somente os adoçantes de mesa, aqueles encontrados nos mercados. A substância está presente nos produtos dietéticos também, como iogurtes, sucos e refrigerantes. "Por isso, é importante fazer o cálculo, pois o limite varia conforme o peso da pessoa", diz.

Obesidade

Nos Estados Unidos, o açúcar vem sendo apontado por profissionais de saúde e nutrição como um grande promotor da obesidade, mal responsável por moléstias degenerativas, como o diabete, os ataques cardíacos e os acidente vascular cerebral, além do câncer. Essas evidências contribuem para o aumento do consumo de adoçantes. Fábio Gomes lembra que a mazela americana aflige também os brasileiros. "O açúcar se transforma em energia no nosso organismo. Quando essa energia não é liberada, ele vira gordura. Os hábitos mudaram, as pessoas estão mais sedentárias. O consumo de refrigerantes e biscoitos, maiores fontes de açúcar, aumentou 400% nos últimos 30 anos aqui no Brasil. Os resultados são o sobrepeso e o aumento significativo de doenças. O açúcar tem culpa, sim", reflete.

A professora aposentada Roselene Rodrigues Dantas, 62 anos, é diabética há quase três décadas. Apreciadora da boa mesa e cozinheira de mão cheia, ela confessa que nem sempre resiste aos doces feitos com açúcar comum, embora tenha recomendação médica de não consumi-los. "Sempre adorei doces. Sou mineira, e essas delícias faziam parte do meu dia a dia. Hoje, tenho que conviver com os adoçantes. Faço bolos, doces e pães com eles, mas o sabor não é o mesmo. Sempre mudo de marca para ver se melhora e, às vezes, não resisto à tentação: coloco açúcar nas receitas ou como pães e outras guloseimas", revela.

Para o nutricionista do Inca, a situação não fugiria do controle se houvesse equilíbrio. O açúcar é necessário, deve estar na dieta, mas é fundamental dosar o consumo. O mesmo deve ser observado com os adoçantes. "Do total de carboidratos que consumimos, algo que deve representar 60% das calorias diárias adquiridas na nossa alimentação, no máximo 10% deveria vir do açúcar", alerta Fábio. Segundo ele, é preciso e possível adotar posturas saudáveis que preservam a saúde e a qualidade de vida. "Os refrigerantes devem ser abolidos. Prefira os sucos. Os da estação nem sequer precisam ser adoçados por açúcar ou adoçantes. Eles já são naturalmente doces", aconselha.

Palavra de especialista
Dados precisam ser confirmados

O açúcar em sua forma refinada, que é a forma de consumo mais difundida em nossa sociedade, é o que chamamos de fonte de calorias vazia. Isso é, não fornece nutriente algum, além das 4kcal por grama de peso. O uso excessivo do mesmo (em níveis acima de 10% das calorias diárias) pode levar a ganho ponderal e aumento dos triglicerídeos. A obesidade, por sua vez, é notoriamente responsável por inúmeras doenças como diabetes, hipertensão arterial, doenças cardio e cérebro-vasculares, distúrbios do sono e outras. O açúcar mascavo, por não passar pelo processo de refinamento, tem maiores concentrações de cálcio, magnésio, fósforo e potássio, quando comparado ao refinado. O teor calórico e os níveis de carboidrato são equivalentes em ambos. É válido ressaltar que, apesar das nítidas vantagens do açúcar mascavo, o uso parcimonioso do açúcar comum não leva a grandes prejuízos para a saúde. Já o uso de adoçantes artificiais (ciclamato, sacarina, aspartame) realmente sempre foi alvo de polêmicas e especulações. Um estudo recente mostrou que o consumo de refrigerantes diet ou light implicaria um aumento de 36% do risco de desenvolver síndrome metabólica (excesso de peso, diabetes ou pré-diabetes, hipertensão arterial e elevação dos triglicerídeos). Mas ainda é cedo para tomarmos uma posição definitiva em relação ao assunto. Os dados necessitam de confirmação por outros estudos e há fortes evidências científicas de que o uso de adoçantes dentro dos níveis estabelecidos é seguro. A ingestão do aspartame estaria, em princípio, contraindicada apenas para pacientes fenilcetonúricos.

André Mascarenhas, endocrinologista

Fonte: Correio Braziliense

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