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sábado, 26 de setembro de 2009

Sucralose é o edulcorante mais próximo da sacarose para adoçar café, indica pesquisa


 Pesquisadora comparou, em tese de doutorado, cinco produtos permitidos pela legislação brasileira

A sucralose, adoçante derivado do açúcar, é o edulcorante que apresenta o perfil mais próximo da sacarose no que se refere ao adoçamento do café coado. A constatação é de uma pesquisa desenvolvida para a tese de doutoramento de Patrícia Trevizam Moraes, defendida na Faculdade de Engeharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, sob a orientação da professora Helena Maria André Bolini. De acordo com a autora do trabalho, muitos provadores não conseguiram diferenciar, durante os testes sensoriais, entre uma substância e outra. "Esse dado é importante, visto que tanto a indústria alimentícia quanto os consumidores têm buscado um adoçante que fique próximo da sacarose", afirma a pesquisadora.

Para realizar o estudo, Patrícia comparou cinco edulcorantes permitidos pela legislação brasileira com a sacarose: aspartame, acessulfame-K, mistura de ciclamato e sacarina (2:1), estévia e a sucralose. Todos são encontrados no mercado. A autora da tese conta que decidiu investigar o comportamento desses adoçantes em relação ao café solúvel e torrado e moído porque muitas pessoas têm dificuldade de consumir a bebida sem que seja adoçada com açúcar. "Várias até ingerem sucos e iogurtes com edulcorantes, mas não conseguem fazer o mesmo em relação ao café", explica. Além disso, o consumo de café no Brasil vem crescendo nos últimos anos. Entre as razões estão o aumento da qualidade dos grãos e o lançamento de linhas gourmets. Em 2007, por exemplo, cada brasileiro consumiu 4,42 quilos do produto, número 3,5% superior ao registrado no ano anterior.

O estudo conduzido por Patrícia cumpriu diversas etapas, tais como a definição do perfil das bebidas, análise descritiva-quantitativa e análise tempo-intensidade. Esta ultima técnica, informa a pesquisadora, teve maior destaque no trabalho porque emprega um programa de computador desenvolvido na própria FEA, capaz de determinar a duração de alguns estímulos, como gosto doce, gosto amargo e o sabor de café por um período de tempo. Estas informações são de extrema importância porque os edulcorantes tendem a apresentar um gosto residual (after taste). Foram utilizados dois grupos de provadores: um composto por voluntários e outro por pessoas pré-selecionadas, que foram treinadas para perceber eventuais diferenças nas bebidas.

Ao analisar os resultados dos testes, Patrícia fez constatações importantes. A primeira delas é que a sucralose é o adoçante que mais se aproxima do açúcar. A substância, que tem um potencial edulcorante até 600 vezes maior do que a sacarose, sequer foi identificada por diversos dos provadores que participaram do teste sensorial. A autora da tese também verificou que a concentração ideal de açúcar é maior no café coado do que no solúvel. A partir da manifestação dos provadores, foi definido que para cada 100 mililitros do primeiro, é recomendável uma concentração de 12,5% de sacarose. Para o segundo, o índice cai para 9,5%. "Essa informação é importante porque a indústria alimentícia pode incluí-la na rotulagem de seus produtos", infere a pesquisadora.

Segundo ela, no caso do café solúvel a sucralose já poderia vir associada de fábrica ao produto, de modo a facilitar o preparo da bebida pelo consumidor, que não teria que se preocupar em colocar esta ou aquela quantidade de adoçante. O estudo apurou ainda que a estévia foi a que apresentou a menor potência edulcorante, ou seja, o menor poder de adoçar. Embora seja cerca de 100 vezes mais doce que o açúcar, a substância tem um amargor característico, o que obriga o bebedor de café a usar uma quantidade maior do produto. A sucralose, por outro lado, foi a que apresentou a maior potência edulcorante. Por fim, o teste de aceitação apurou que os provadores consideraram que o edulcorante que "combina" melhor com o café solúvel é o acesulfame-K. Já para o café torrado e moído, a sucralose foi apontada como a melhor "parceira".

FONTE: JORNAL UNICAMP - ANO XXIII – Nº 422


Gorduras de refeições podem afetar artérias de maneira positiva ou negativa

Médico comenta estudo de pesquisadores australianos. Dados reforçam necessidade de alimentação balanceada.

 Luis Fernando Correia Especial para o G1

Segundo pesquisadores australianos, apenas três horas após a ingestão de uma porção de gorduras saturadas, o endotélio, ou seja, a camada interna dos vasos sanguíneos diminui sua capacidade se expandir e aumentar o fluxo de sangue se necessário.

Além disso, os triglicerídeos e os marcadores de inflamação se elevam rapidamente após a ingestão das gorduras e seis horas depois a capacidade do bom colesterol, o HDL, de proteger as artérias está comprometida também.

As gorduras saturadas estão presentes na carne vermelha e nos laticínios, além de certos óleos vegetais como o óleo de coco.

Por outro lado, se a refeição for rica em óleos poli-insaturados como os óleos de girassol, milho e canola, os efeitos são exatamente opostos.

Seis horas após a ingestão das gorduras poli-insaturadas, o colesterol HDL se mostra mais eficiente em proteger as artérias e os marcadores de atividade inflamatória no sangue estão diminuídos.

A pesquisa foi realizada através da administração de uma refeição que era equivalente a um cheeseburguer duplo e uma porção grande de batatas fritas acompanhadas de um milkshake.

Apesar de o estudo ter sido realizado com um grupo pequeno de participantes, os dados apontam para a necessidade de que as nossas refeições sejam balanceadas e que, ao cometer um abuso, tenhamos a consciência de que as artérias sofrem mesmo com esse abuso.

Fonte: G1 - GLOBO

sábado, 12 de setembro de 2009

Biofilmes antimicrobianos protegem alimentos

Testes feitos na FEQ mostram que invólucros  são seguros e podem chegar às prateleiras
 
O problema é corriqueiro e bem conhecido dos consumidores de queijos: principalmente depois de retiradas as embalagens, fungos e outros microrganismos ganham rapidamente a superfície. Há ainda o problema da utilização de invólucros sintéticos, não biodegradáveis. O que fazer?


A garantia da segurança microbiológica e a manutenção da qualidade nutricional dos produtos alimentícios processados, bem como a necessidade de redução da utilização de embalagens sintéticas, são alguns dos principais desafios enfrentados pelo setor de comercialização de alimentos. Estas questões têm levado nas últimas décadas ao desenvolvimento de embalagens – filmes e coberturas – elaboradas a partir de matérias-primas renováveis, como os polissacarídeos, as proteínas e os lipídios.

Ainda que esses filmes e coberturas não venham a substituir totalmente as embalagens plásticas tradicionais, podem contribuir significativamente para a redução de seu uso e, mais que isso, atuar como suportes na liberação controlada de substâncias ativas que evitem o desenvolvimento de microrganismos, além de limitar a migração de umidade, aromas e lipídios.

Na produção de queijos, por exemplo, os conservantes são adicionados diretamente na massa ou, em alguns casos, o produto é imerso em uma solução do antimicrobiano. Modernamente se propõe que o agente antimicrobiano esteja no próprio invólucro e seja liberado ao longo do maior tempo possível, de maneira a preservar o produto, aumentando o que se denomina vida de prateleira.

Diante dessa perspectiva, a tecnologia de biofilmes antimicrobianos vem despertando o interesse de pesquisadores que procuram compreender e controlar os mecanismos que determinam a transferência para a superfície do alimento de agentes ativos incorporados na matriz polimérica de que é constituído o filme. Diante da constatação de que na maioria dos alimentos sólidos e semi-sólidos o crescimento microbiano ocorre na superfície, surge a possibilidade de utilização de menores quantidades de conservantes químicos em relação ao que se utiliza quando adicionados diretamente no produto.

Trabalhos desse tipo vêm sendo desenvolvidos, desde 2000, no Laboratório de Engenharia de Produtos e Processos em Biorrecursos, dirigido pelo engenheiro químico Theo Guenter Kieckbusch, da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, que desenvolveu técnica de obtenção de filmes de alginato com baixa solubilidade em água.

Mais recentemente foi incorporada a essa linha de pesquisa a obtenção de filmes compostos de alginato e quitosana devido à possibilidade desses dois biopolímeros formarem complexos polieletrolíticos, por exibirem centros de cargas opostas, que permitem melhorar as propriedades dos filmes em relação aos obtidos através desses componentes quando utilizados isoladamente. Além disso, a quitosana apresenta atividade antimicrobiana inerente, o que poderia contribuir para o caráter ativo do filme.
Biofilme controla transferência  (Foto: Antoninho Perri)Foi com base nessas idéias que a pesquisadora Mariana Altenhofen da Silva, orientada pelo professor Theo, como é mais conhecido, desenvolveu sua pesquisa de doutorado focada no estudo da mistura dessas duas macromoléculas – alginato e quitosana –, com o objetivo de obter possíveis matrizes para a liberação controlada de agentes antimicrobianos, concentrando-se, no caso, na utilização do sorbato de potássio e natamicina, de efeitos e usos sobejamente comprovados. Os trabalhos foram desenvolvidos em parceria com o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), de Campinas, que teve a participação direta das pesquisadoras Marta Hiromi Taniwaki e Beatriz Thie Iamanaka.
Além de visar a otimização do processo de elaboração de filmes de alginato e de filmes compostos de alginato e quitosana, o trabalho ateve-se a determinar a eficiência de dois agentes antifúngicos – sorbato de potássio e natamicina, incorporados nos filmes, contra três microrganismos de alta ocorrência em queijos , com vistas a uma possível aplicação como embalagem antimicrobiana em alimentos de umidade intermediária.

A autora deteve-se também no estudo da cinética de liberação da natamicina nas matrizes poliméricas formadas e na determinação do efeito de sua adição nas propriedades químicas e físicas dos filmes.
Mariana concluiu que a metodologia desenvolvida no trabalho permite a efetiva obtenção de filmes ativos de alginato e filmes ativos compostos de alginato e quitosana contendo natamicina. Ela descreve as condições que permitem a confecção de filmes com características adequadas para aplicação como embalagem de alimentos –aparência atraente, baixa massa solubilizada em água, baixa permeabilidade ao vapor de água, baixo grau de intumescimento e propriedades mecânicas apropriadas para o manuseio. Segundo ela, “os resultados obtidos permitem afirmar que os filmes desenvolvidos contendo natamicina apresentam excelente perspectiva de atuação como filmes antimicrobianos para alimentos”.

O processo
O professor Theo conta que foi levado a desenvolver a tecnologia de filmes de alginato quando se deu conta que o seu processo de obtenção não era simples porque o produto apresentava alta solubilidade em água. Ele introduziu então duas etapas na sua produção: da primeira, resulta um filme simples, solúvel em água que, em seguida, submetido a um pós-tratamento com solução de cloreto de cálcio, torna-se menos solúvel e mais resistente. O resultado foi auspicioso porque desse processo resultaram filmes menos solúveis que os obtidos a partir de proteínas, de amido ou de produtos dele derivados, que levam a perdas de 30% a 40%. O alginato, muito usado na indústria e por isso muito conhecido, é um polímero natural, de estrutura linear e que dá origem a um filme transparente.

O pesquisador explica que na obtenção desses filmes atualmente se usa, além do alginato, a quitosana, que depois da celulose é o biopolímero mais abundante no mundo. Então ele passou a estudar a formação de filmes compostos de alginato e quitosana, cujas moléculas, por apresentarem respectivamente centros negativos e positivos, não exigiram a presença de íons positivos de cálcio para se unirem. 
A idéia inicial era usar o filme na embalagem de alimentos que tivessem baixa umidade, adicionando durante sua formação um antimicrobiano – o sorbato de potássio – que fosse sendo liberado lentamente e que tivesse uma ação muito efetiva sobre fungos e outros microrganismos. O objetivo inicial foi a utilização em queijos e por isso foram testados os microrganismos que crescem em suas superfícies.

Os filmes assim obtidos foram submetidos a ensaios microbiológicos no Laboratório de Microbiologia do Ital. No processo, os microrganismos a serem combatidos são aplicados sobre um gel de Ágar sobre o qual é aplicado um pequeno disco do filme. Como mostra a figura nesta página, em torno desse disco delinea-se um anel protegido dos microrganismos que se desenvolveram apenas a partir dele.
Biofilme controla transferência  (Foto: Antoninho Perri)No entanto, verificou-se que a utilização do sorbato de potássio, o mais comum dos antimicrobianos utilizados em alimentos, não funcionou como se pretendia, pois, além de liberá-lo rapidamente, o filme não apresentava as propriedades e as características desejadas.

Mariana conta que o sucesso foi alcançado quando passaram a utilizar como antimicrobiano o produto natural natamicina e metade da concentração máxima de quitosana (17,5%) na mistura. A natamicina provavelmente interage com a quitosana apresentando liberação mais lenta, conforme desejavam. A utilização de 35% de quitosana, na mistura, levou a filmes de cor amarelada que apresentaram algumas deformações e fissuras, fatores que dificultam o controle da liberação do antimicrobiano.

Extrapolando os resultados, o professor Theo está convencido de que utilizando 20% de quitosana se conseguirá uma liberação ainda mais lenta, mantendo-se no filme as características desejadas quanto à solubilidade menor em água, resistência mecânica e quanto ao resultado com o emprego da natamicina que foi surpreendente quanto à baixa velocidade de liberação.

Estes ensaios não foram realizados por Mariana durante a pesquisa por limitação de tempo, pois a idéia da utilização da natamicina surgiu quando os trabalhos já iam adiantados. A propósito, o orientador considera que o emprego da natamicina constituiu o grande achado, e surgiu de um trabalho realizado em Minas Gerais que mostra a utilização da substância na conservação de queijos. Ele considera que a transposição dos resultados do laboratório para a indústria demanda ainda um longo caminho.

O professor Theo pretende na seqüência obter filmes de alginato com outros polímeros, como a pectina, com vistas a contornar o problema do alginato que gera filmes resistentes, duros, mas de pouca plasticidade, com o objetivo de conseguir propriedades adequadas quanto à resistência, solubilidade e capazes de liberarem antimicrobianos com a velocidade adequada.

FONTE: Jornal UNICAMP – ANO XXIV – Nº 440

Pesquisadores desenvolvem nanopeneiras poliméricas


Produzidas com materiais biocompatíveis,
podem ser usadas na liberação controlada de medicamentos
 
Luis Enrique Gutierrez-Rivera, autor da tese, e a professora Lucila Cescato, orientadora da pesquisa: superfície lisa facilita o escoamento e permite a retrolavagem (Foto: Antoninho Perri)Pesquisadores da Unicamp acabam de desenvolver nanopeneiras poliméricas, com aplicações principalmente em processos biológicos, que prometem ser alternativa bem mais eficaz do que as membranas de microfiltração disponíveis no mercado. São materiais biocompatíveis e biodegradáveis de uso potencial, por exemplo, em cápsulas implantadas no corpo humano para a liberação controlada de medicamentos.

“Não há registro na literatura de peneiras ou membranas com este polímero e a mesma homogeneidade e dimensões submicrométricas dos poros. Essas características permitem direcioná-las para aplicações biológicas como filtração de vírus, bactérias e glóbulos vermelhos”, afirma Luis Enrique Gutierrez-Rivera, que defendeu a tese de doutorado no Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW). 
Microscopia eletrônica da nanopeneira (Imagens: Divulgação)Segundo a professora Lucila Cescato, orientadora da pesquisa, o processo de fabricação das nanopeneiras envolveu a litografia interferométrica (ou holográfica), técnica desenvolvida no Laboratório de Óptica do IFGW, que ela coordena. “A técnica consiste em projetar um padrão de interferência, gerado através de dois feixes de laser que, quando coincidem no espaço, demarcam regiões claras e escuras, intercaladamente”.

Este padrão de luz e sombra, conforme explicação da docente, é gravado duas vezes no material fotossensível (no caso, a resina negativa SU-8). A resina é girada em 90 graus entre as exposições e submetida posteriormente à revelação. “Quando removemos a região não-sensibilizada, formam-se os poros. E, se promovermos mais exposições ao padrão de interferência, é possível gerar estruturas tridimensionais”.Gutierrez-Rivera informa que desenvolveu nanopeneiras feitas do polímero PLLA (mistura de ácido poli-L-láctico), que tem a propriedade de se decompor e ser absorvido pelo organismo. “Na década de 1990, o material dominante em sistemas microeletromecânicos para aplicações biomédicas era o silício, mas nos últimos anos vem sendo cada vez maior a utilização de polímeros, devido às suas propriedades de biocompatibilidade e moldabilidade”.

Lucila Cescato observa, entretanto, que as membranas comerciais são produzidas através da síntese de polímeros, o que implica em pouca uniformidade no tamanho dos poros e também na sua estrutura. “As indústrias de alimentos e químicas utilizam largamente estas membranas na filtração de partículas em função do baixo custo. Ocorre que esses processos não exigem tanta seletividade; coadores de café, por exemplo, são membranas deste tipo”.

Microscopia eletrônica da nanopeneira separando partículassubmicrométricas de poliestireno (Imagens: Divulgação)Já em uma hemodiálise, onde a seletividade é essencial, irregularidades no tamanho dos poros e na morfologia oferecem uma probabilidade, ainda que pequena, de que uma bactéria passe pela membrana. “Diferentemente dos materiais sólidos, os sistemas vivos são mais complicados, havendo células que se contraem e conseguem passar por cavidades menores que o seu tamanho”, ilustra a professora do IFGW.

Além da homogeneidade dos poros, as nanopeneiras possuem superfície lisa, o que facilita o escoamento e permite a retrolavagem, quando um dos problemas na filtração é o entupimento e inutilização das membranas. Por outro lado, Lucila Cescato atenta que por serem muito finas, as nanopeneiras não funcionam em processos industriais com taxa de filtragem e pressão elevadas. “O preço também não seria competitivo para uso em larga escala. Sua melhor aplicação é na filtragem por difusão”.

Drug delivery
Por conta disso, Luis Gutierrez-Rivera buscou nanopeneiras com dimensões e características apropriadas para cápsulas que funcionam como microrreservatórios de onde drogas são difundidas para o fluxo sanguíneo (Drug Delivery System). “A uniformidade dos poros torna o processo muito mais controlável. A eficácia das drogas depende da concentração adequada: doses acima do indicado são tóxicas, enquanto que doses baixas não possuem efeito terapêutico e geram resistência”.
Outra aplicação pensada para esses dispositivos, de acordo com o autor da tese, é em microrreservatórios contendo células vivas produtoras de substâncias como a insulina. Na tela do computador, ele mostra o desenho de uma cápsula de 4 milímetros. “Além de controlar a taxa de difusão de insulina para o corpo, a nanopeneira protege as células produtoras em seu interior, já que o diâmetro reduzido dos poros impede que os anticorpos entrem para destruí-las”. 
Nas três imagens acima, as irregularidades  das membranas poliméricas em  relação a diâmetro dos poros, superfície e perfil lateral (Imagens: Divulgação)As nanopereiras poderiam substituir as membranas poliméricas em mais uma aplicação importante, como biossensores que monitoram o fluxo de sangue através das artérias para detectar possíveis estreitamentos. A vantagem dos dispositivos desenvolvidos por Gutierrez-Rivera está, mais uma vez, na uniformidade dos poros e da estrutura, ao passo que as membranas comerciais apresentam problemas de permeabilidade e seletividade com frequência.

Baixo custo
Na tese, o autor explica que em membranas comerciais a máxima homogeneidade de poros, na faixa submicrométrica, é obtida pela técnica de track etching, ainda assim com distribuição aleatória e variação de tamanho em torno de 35%. “Na última década, têm sido empregadas técnicas de fotolitografia de alta resolução para alcançar melhor homogeneidade e dimensões apropriadas para novas aplicações biológicas, tais como análise de proteínas e separação de vírus”.

A ressalva do pesquisador é que para fotolitografar poros com dimensões submicrométricas são necessárias fontes de comprimento de onda muito pequenos, como feixe de elétrons, feixe de íons, luz ultravioleta ou raio-X, sistemas extremamente caros ou que se restringem a áreas muito pequenas. “A técnica que utilizamos – exposição holográfica ou litografia interferométrica – mostrou-se uma alternativa interessante e de baixo custo para gravação de poros com dimensões na faixa de 0,2 a 1 mícron, em áreas de até 4 polegadas, de uma só vez”.

Como acrescenta a professora Lucila Cescato, esta técnica permite gravar poros extremamente pequenos em uma área grande, o que seria muito difícil com outro tipo de processo. “O sistema de escrita por feixe de elétrons ou de íons, cujo instrumental é caríssimo, grava em áreas de 100 por 100 mícrons [100 mícrons equivalem a um décimo do milímetro]. Recorrendo à litografia holográfica, gravamos praticamente com a mesma resolução (poros na faixa de 200 a 600 nanômetros) em áreas de centímetros”.
Buscando parceiros para testar aplicativos.

O desenvolvimento das nanopeneiras poliméricas por Luis Gutierrez-Rivera compreendeu desde a escolha dos materiais e processos, passando pela obtenção das estruturas poliméricas furadas, até a sua caracterização como dispositivos de separação e filtração de partículas. Agora, o autor da tese deverá realizar um pós-doutorado focando as aplicações para as micropeneiras e caracterizando vazão, resistência e outras grandezas, direcionando-as a processos biológicos e farmacológicos.

O próximo passo nesse sentindo, segundo a professora Lucila Cescato, será a busca de interação com grupos das áreas de biologia e de química envolvidos com esse tipo de aplicação. “Nós chegamos a produzir cápsulas no mesmo material, mas não temos conhecimento nem instrumental, por exemplo, para inserir células dentro delas ou para medir o fluxo de drogas ou outras substâncias”. 
A importância da interdisciplinaridade leva Lucila Cescato a recordar a origem do próprio Laboratório de Óptica do Instituto de Física, coordenado por ela. “O foco principal era o estudo de materiais fotossensíveis e, para isso, desenvolvemos a técnica de interferometria. Com o tempo, começamos a utilizar esse instrumental para produzir componentes ópticos difrativos e posteriomente cristais fotônicos, o que se tornou nosso forte”.

A sugestão de desenvolver componentes mecânicos como as peneiras por meio da interferometria, acrescenta a pesquisadora, veio do professor Luiz Otávio Saraiva Ferreira, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), com o incentivo da professora Maria Aparecida Silva, da Faculdade de Engenharia Química, co-orientadora de Gutierrez-Rivera durante o mestrado. “Idealizamos as nanopeneiras para uso em fármacos, mas elas podem servir na filtração de partículas entre 100 nanos e 1 mícron – é a chamada faixa de ultrafiltração, em que se inserem elementos como fumaça de tabaco, látex, asbesto, glóbulos vermelhos, bactérias e vírus”.

FONTE: Jornal UNICAMP – ANO XXIV – Nº 440

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Aposte na semente

RACHEL BOTELHO
DA FOLHA UOL

Incluir sementes inteiras de linhaça na dieta pode ajudar a baixar os níveis de colesterol no sangue. A conclusão é de uma meta-análise de 28 estudos feita na China para tentar esclarecer o real impacto desse ingrediente na redução do colesterol. Pesquisas existentes até então chegaram a resultados díspares.

O trabalho, publicado no "American Journal of Clinical Nutrition", concluiu ainda que a ingestão de óleo de linhaça não produz o mesmo efeito. Para a nutricionista Cibele Crispim, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da consultoria RG Nutri, apesar de o óleo ter as propriedades dos ácidos graxos presentes na linhaça e de estes serem o principal apelo do ingrediente, os nutrientes são mais benéficos em conjunto do que isoladamente.

"Diziam que a linhaça reduz o colesterol pela ação do óleo, então fizeram os suplementos. Agora vemos que o efeito do alimento se sobrepõe ao do suplemento", diz. Segundo ela, é possível que um nutriente encontrado na semente potencialize a função de outros, o que não ocorre quando só um
nutriente é isolado, como no suplemento.
A meta-análise, que avaliou dados de 1.500 pessoas que consomem, em média, uma colher (sopa) da semente ou do óleo, concluiu que a ingestão da semente está associada à redução do colesterol total e do LDL, o "mau" colesterol. As mulheres, principalmente aquelas na pós-menopausa, foram mais beneficiadas do que os homens. Não houve alteração, no entanto, nos níveis de triglicerídeos nem na taxa do colesterol "bom".

Para Cibele Crispim, isso indica que as pessoas devem dar preferência às sementes. "Elas possuem fibra, que diminui a absorção de colesterol no intestino, vitamina E, que é antioxidante, e o ômega 3."

Para aproveitar os óleos e as vitaminas, é importante triturar a semente no liquidificador. "Para transformar em farinha, a indústria utiliza muitas vezes altas temperaturas, o que diminui as propriedades. É melhor comprar a semente inteira", diz. Até a hora de comer, com leite ou na comida, deve-se deixá-la em local seco e fresco.

sábado, 5 de setembro de 2009

Diet e Light: Você sabe a diferença?



Paloma Oliveto

Publicação: 01/09/2009 08:15 Atualização: 01/09/2009 00:18

Quando, há dois anos, Geraldina Simão, 83, descobriu que estava pré-diabética, redobrou a atenção com os rótulos dos alimentos. Refrigerante e geleia, só se forem diet. “Geralmente, eu mesma gosto de fazer os doces, usando adoçante. Mas, quando compro um produto, levo o dietético”, diz. Nem todos os portadores do diabetes mellitus, porém, têm a mesma consciência. Uma pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, mostrou que a confusão entre produtos light e diet é grande entre os pacientes.

Para verificar o grau de conhecimento sobre o assunto, a nutricionista Paula Barbosa de Oliveira ouviu 120 pessoas atendidas pelo Centro de Saúde Escola da faculdade e dos Núcleos de Saúde da Família da USP. “É pequena a porcentagem da população estudada que sabe a diferença entre um produto diet e um light, que tem o hábito de ler o rótulo dos alimentos e que se preocupa com a quantidade utilizada de adoçante”, constatou a pesquisadora.
Menos da metade — 41,7% — costuma observar as informações das embalagens. Por isso, ela defende que os pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tenham mais acesso à informação, ainda que o consumo dos produtos sem açúcar não faça parte do tratamento do diabetes. Paula lembra que existe uma legislação que exige dos fabricantes um aviso sobre os componentes dos produtos, mas sustenta que, além de desinteresse, as pessoas dizem não conseguir enxergar o que está escrito nem entender o significado do rótulo. “Acho que talvez o tamanho da letra e a presença de termos técnicos possam dificultar o hábito da leitura dos rótulos”, diz.

Crescimento
Segundo a nutricionista, estima-se que, em todo o mundo, o número de pessoas com diabetes mellitus passará dos 135 milhões registrados em 1995 para 300 milhões nos próximos 15 anos. No Brasil, 7,6% da população entre 30 e 69 anos são portadores da doença. Ao mesmo tempo, o consumo dos produtos diet e light está crescendo: de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos, em 35% dos lares brasileiros, há produtos com essas classificações.
“É muito comum as pessoas fazerem confusão com as informações do rótulo, não só as diabéticas”, concorda a nutricionista Larissa Nepomuceno, da Academia Formis Pilates, em Goiânia, e consultora na área de nutrição. Ela explica que diet e light são absolutamente diferentes. “Os produtos dietéticos são feitos para atender dietas com algum tipo de restrição, que pode ser de açúcar, sal, colesterol ou proteína”, diz. Segundo ela, não basta o fabricante dizer que o alimento é diet. “É preciso informar se é isento de açúcar ou indicado para diabéticos.” Já os produtos light são alimentos modificados para reduzir em pelo menos 25% algum dos componentes, em relação à forma tradicional. Geralmente, têm como alvo pessoas que querem perder peso, pois possuem menos calorias e gordura.
De acordo com Larissa, um grande erro cometido nas dietas de emagrecimento é consumir chocolate diet no lugar do light. “O fato de ser diet só quer dizer que pode ter quantidades insignificantes de açúcar. Mas, para compensar a falta de gosto, os fabricantes aumentam a gordura. Por isso, esses chocolates são mais calóricos que os normais”, conta.

Riscos
A nutricionista Paula Barbosa de Oliveira lembra que o erro pode repercutir no controle glicêmico. Quem ingere produtos com redução calórica pensando que está consumindo alimentos sem açúcar coloca em risco os níveis de glicemia no sangue que, no caso dos diabéticos, é maior do que no das demais pessoas. Além disso, a ingestão de produtos mais calóricos que os normais contribui para aumentar o peso e, de acordo com a pesquisa da nutricionista, 83,3% dos entrevistados foram classificados com sobrepeso ou obesidade, que são fatores de risco para a diabetes mellitus.
Segundo Paula, outra consequência da falta de leitura dos rótulos é a tendência de consumo excessivo. Nas embalagens, há informações sobre a quantidade ou o percentual da substância em relação ao peso do produto. Alimentos indicados para diabéticos, por exemplo, têm menos de 0,5g de açúcar por porção. Isso não significa, porém, que está permitido devorar o pote todo, já que, de porção em porção, aumenta-se a quantidade ingerida de açúcar. “Nisso, as pessoas erram muito. Compram uma geleia diet e acabam comendo em excesso. O ideal é colocar duas pontinhas e acabou. Assim, pode usar sem medo”, ensina Geraldina Simão, vice-presidente da Associação de Diabéticos de Brasília. A organização, localizada na 605 Sul, presta atendimento à população, como informações e encaminhamento médico.
Na pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, também foi investigado o uso de adoçante pelos portadores de diabetes mellitus. A nutricionista Paula Barbosa de Oliveira verificou que as pessoas não se preocupam com a quantidade utilizada e desconhecem a recomendação da Organização Mundial da Saúde de se fazer um rodízio entre os tipos de adoçante para não acumularem no organismo substâncias como sódio e gordura. De acordo com a OMS, a quantidade deve ser calculada de acordo com o peso da pessoa. O limite diário de aspartame, por exemplo, é 40mg por quilo. Da sacarina, é 15mg/kg, e do ciclamato, 11mg/kg. “O uso consciente e adequado destes produtos pode facilitar a adesão ao tratamento e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida desses pacientes”, defende a nutricionista.

» Aprenda a fazer doces livres de açúcar

Barrinha de Canela com Uva Passa
Ingredientes:
250 g de chocolate diet (sem açúcar) ao leite
100 g de uva passa preta
1 colher de sopa de canela em pó
Modo de Fazer:
Raspar o chocolate com uma faca serrilhada e colocar em forma refratária. Derreter em banho-maria. Retirar do fogo e mexer com uma colher de pau até obter uma massa homogênea. Com ajuda de uma espátula, espalhar a massa sobre pedra-mármore movimentando-a constantemente até ficar morna. Colocar em uma vasilha e misturar a uva-passa com a canela peneirada. Mexer bem e colocar em uma fôrma retangular forrada com papel-filme. Bater a fôrma sobre uma superfície firme para que saiam as bolhas de ar e fique uma camada homogênea. Levar à geladeira por 10 minutos ou até ficar uma massa macia. Retirar da geladeira e, com uma faca afiada, cortar em retângulos. Deixar secar por 12 horas. Embrulhar com papel celofane colorido transparente, no formato de bala.
Rendimento: 20 porções
Valor Calórico: 78 Kcal / porção
Substituir 1 porção desta receita por 1/2 porção de leite 1/2 porção de gordura.

Bombom de Café
Ingredientes:
100 g de chocolate dietético em barra picado
3/4 xícara de chá de leite em pó desnatado
4 colheres de sopa de água
2 colheres (chá) de café solúvel
2 colheres (chá) de farelo de trigo
8 colheres (chá) de adoçante em pó do grupo III
1/4 xícara (chá) de farelo de trigo
5 colheres (chá) de adoçante em pó do grupo I ou III, para enrolar
Modo de Fazer:
Colocar o chocolate num refratário e levá-lo ao fogo em banho-maria. Enquanto derrete, em outro recipiente, misturar o leite em pó com a água, o café, o farelo de trigo e o adoçante. Finalmente, misturar o chocolate derretido e enrolar as bolinhas. Num prato, misturar o farelo de trigo e o adoçante da cobertura e passar os bombons.

Rendimento: 35 unidades
Valor calórico: 16,4 Kcal / porção
Substituir 4 porções desta receita por 1/2 porção de leite.

Miniprestígio
Ingredientes:
1 xícara (chá) de leite em pó desnatado
1/2 xícara (chá) de água
1 colher (chá) de maisena
1 colher (chá) de margarina
120g de chocolate dietético em barra
1/2 xícara (chá) de leite desnatado
2 colheres (chá) de adoçante em pó do grupo III
Coco ralado, suficiente para enrolar
Modo de Fazer:
No liquidificador, bater o leite em pó com a água, a maisena, a margarina e despejar numa panela. Misturar o chocolate com o leite e levar ao fogo, mexendo até aparecer o fundo da panela. Retirar do fogo, misturar o adoçante, colocar em um prato untado e levar à geladeira para esfriar. Enrolar depois de gelado e passar pelo coco ralado.
Rendimento: 50 unidades
Valor calórico: 35,2 Kcal / porção
Substituir 2 porções desta receita por 1/2 porção de leite.

Ovo de Páscoa
Ingredientes:
Ovo
500 g de chocolate diet (sem açúcar) ao leite
100 g de proteína de soja texturizada torrada
50 g de amêndoas sem pele, torradas e moídas grosseiramente
Recheio
100 g de frutas mistas desidratadas
Montagem:
2 formas para ovo de Páscoa médias
Modo de Fazer:
Raspar o chocolate com uma faca serrilhada. Colocar em uma vasilha e derreter em banho - maria. Apagar o fogo e mexer com uma colher de pau até obter uma consistência homogênea. Espalhar o chocolate derretido sobre pedra - mármore, com ajuda de uma espátula, movimentando-o constantemente até a massa ficar morna. Colocar em uma vasilha e juntar a proteína de soja texturizada e as amêndoas. Misturar bem até obter uma massa homogênea.
Montagem: Verificar se as fôrmas estão secas e sem resíduos de gordura. Com as costas de uma concha pequena, aplicar uma camada fina da massa de chocolate em todo o interior de cada fôrma. Levar à geladeira por 5 minutos. Retirar da geladeira e aplicar uma segunda camada da massa de chocolate. Repetir esse procedimento mais 3 vezes. Engrossar as bordas com uma camada extra de chocolate, evitando que o ovo quebre ao desenformar. Deixar secar por 12 horas. Retirar da forma e embrulhar cada parte em papel laminado colorido. Rechear com as frutas desidratadas, fechar o ovo e embrulhar com papel celofane.
Rendimento : 2 ovos de 325 g cada
Valor calórico: 762,5 Kcal / banda do ovo (metade de 1 ovo).
Substituir 1/4 de uma banda do ovo por 1 porção de leite 1 porção de gordura.

Fonte: Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes - coordenação 2004/2005

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Processo obtém extrato de própolis mais rico em compostos funcionais



Pesquisas desenvolvidas na FEA geram depósito de patente junto ao INPI

Pesquisadoras da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp desenvolveram um novo processo para a obtenção de um extrato concentrado de própolis verde, resultando em um produto com mais flavonóides e compostos fenólicos do que os extratos convencionais. A professora Miriam Hubinger coordenou a pesquisa realizada no âmbito do mestrado da engenheira de alimentos Beatriz Mello, formada na Unicamp. O resultado, inédito, levou a um depósito de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) realizado pela Agência de Inovação Inova Unicamp.

O processo utilizado é o de nanofiltração a partir de membranas. “Sabíamos que a própolis é um produto muito rico em propriedades medicinais. Aliado a isso conhecíamos a tecnologia de concentração por membranas, um processo novo, mas que já é utilizado amplamente em outras áreas. Pensamos então em aliar a tecnologia de membranas a este produto, que é muito rico, e tentar obter um produto de qualidade ainda melhor”, explica Beatriz. Como resultado, obteve-se um produto concentrado rico em compostos funcionais com ampla aplicabilidade para as indústrias de nutrição, alimentos, farmacêutica e de saúde e cosméticos.
A engenheira comenta que atualmente o produto mais encontrado advindo da própolis é o extrato alcoólico, que apresenta algumas restrições em função da presença do álcool na substância. “Dependendo da aplicação, pode ocorrer alguma reação e isso não é desejável. Então, a idéia foi retirar este solvente para que o extrato pudesse ser aplicado em mais áreas”, coloca.

 No trabalho foram usadas duas substâncias como solvente – água e álcool.
 Os extratos de própolis usados apresentaram 20% de própolis e 80% de solvente, que, de acordo com as pesquisadoras, é a concentração mais usada pelas indústrias que produzem este tipo de material. Depois de pronto o extrato, as pesquisadoras o passam pelo processo de membrana para manter somente os compostos que interessavam. Com um tanque de alimentação, a solução foi enviada sob pressão através da tubulação para passar pela membrana. O processo é chamado de filtração tangencial, porque ele trabalha em corrente com a membrana. Esta parte experimental do desenvolvimento foi realizada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis.

Beatriz explica que este processo apresenta algumas vantagens, entre os quais menor entupimento, aumento de vazão e maior área de permeação. “Quando esta solução passa pela membrana, os compostos de interesse são retidos. O que continua na solução volta para o tanque e isso é recirculado até que o fator de concentração desejado seja atingido”, coloca. No caso da pesquisa, o objetivo era obter um produto concentrado em quatro vezes. Mas a pesquisadora afirma que, por meio do processo utilizado, é possível concentrar mais vezes, de acordo com o interesse de quem o usa.
Durante o trabalho, a concentração pelo processo de nanofiltração apontou um resultado mais positivo quando realizado com o extrato aquoso. “Obtivemos um produto concentrado mais rico em compostos funcionais. Qualidades tais como o ótimo fluxo permeado aliado à remoção de grande parte de solvente e às altas taxas de compostos funcionais obtidas tornam este processo muito promissor para uso industrial”, avalia.

O impacto mais importante neste caso é a ampliação do escopo de aplicação da própolis. O benefício da retirada da maior parte do solvente desse extrato é a utilização facilitada, principalmente por não ter desvantagens que o solvente causa em aplicações industriais. Beatriz explica que o uso da própolis mais utilizado atualmente, para infecções da garganta, é fundamentado porque a própolis apresenta propriedades anti-microbiana e anti-oxidante, mas que esta função na indústria farmacêutica pode ser ampliada para a produção de antibióticos, antissépticos e desinfetantes.

Ademais, as mesmas propriedades podem ter um reflexo importante em outro tipo de indústria como a de nutrição e de alimentos para a produção de alimentos funcionais e conservantes, nas quais a própolis poderia substituir alguns tipos de conservantes artificiais em alimentos. “Hoje em dia ela não é usada com esta funcionalidade no Brasil, mas no Japão, por exemplo, a própolis já é utilizada na indústria alimentícia para a produção de balas e chocolates”.

Outra aplicabilidade direta seria na indústria de cosméticos para a produção de cremes dermatológicos e outros produtos de higiene pessoal, na qual a própolis tem atualmente o uso restrito, pois não pode estar na forma de extrato nestes casos, porque a adição de álcool ou água pode causar problemas na formulação. “Trata-se de um produto que tem muitas características funcionais. Tem as propriedades anti-oxidantes, pode ser usado no combate ao envelhecimento, o que agrega muito valor aos produtos hoje em dia”, disse Beatriz.

Além dos benefícios em sua aplicabilidade, as pesquisadoras apontam que a tecnologia desenvolvida apresenta diversas vantagens frente aos métodos tradicionais, que aplicam calor ou maior uso de energia. Entre elas, que o processo mantém as qualidades multifuncionais da própolis e também é altamente eficiente. O produto final tem um nível de flavonóides de 70 mg/g, e um nível de fenóis de 100 mg/g enquanto o produto original possui 20 mg/g de flavonóides e 36 mg/g de fenóis. Além disso, o processo é realizado a baixas temperaturas, o que não só reduz o consumo de energia, mas também preserva os importantes compostos químicos.

Beatriz esclarece que os outros equipamentos utilizados para concentração, como o processo a vácuo, são mais caros. “Gerar vácuo é uma coisa muito dispendiosa. Em contrapartida, um equipamento de filtração por membrana é mais barato e pode ser usado por diversos portes de empresas, pois o módulo de membranas pode ser desenvolvido no tamanho que a empresa precisa, de acordo com sua capacidade de produção”. A pesquisadora aponta que o aumento de escala também é facilitado, porque o equipamento pode partir de uma membrana e depois anexar outras em paralelo. Beatriz conta que o processo de membrana começou com a filtração de água. “Na Europa toda a água de alguns municípios é filtrada por membrana. Isso mostra que esta aplicação pode ter uma escala muito grande, mas também uma escala muito pequena”, relata.

Outro resultado direto da pesquisa foi o início da linha de pesquisa na área de concentração por membranas no laboratório. Beatriz continua trabalhando com esta linha em seu doutorado. “Vamos focar no extrato aquoso, testando novas variáveis, como temperatura, pressão e velocidade tangencial. Construiremos também um modelo matemático para o fluxo do permeado”, coloca.

A coordenadora do projeto, professora Miriam, encaminhou um pedido à Fapesp para viabilizar a ampliação do escopo de utilização da tecnologia, como por exemplo, no extrato do pequi. A planta, muito comum no cerrado brasileiro, também tem muitas propriedades e, por isso, as pesquisadoras consideram que será interessante aplicar tal tecnologia a seu extrato.

A patente depositada já está disponível para o licenciamento. Possíveis convênios podem ser articulados junto à Agência de Inovação Inova Unicamp. A equipe de transferência de tecnologia da Inova Unicamp aponta que essa tecnologia está disponível e que a equipe deve oferecê-la para empresas que fazem processamento de extratos vegetais e naturais, em especial, as que fornecem extrato da própolis para indústrias farmacêuticas, de alimentos, de cuidados pessoais e de cosméticos. “As usinas de apicultura e cooperativas são uma opção porque já processam e comercializam o extrato da própolis bruta para o mercado nacional e internacional”, afirma o professor Marcelo Menossi, diretor de propriedade intelectual e desenvolvimento de parcerias da Inova Unicamp.

Para Menossi, caso essas empresas tenham interesse em comercializar um produto com maior valor agregado, a tecnologia demonstra ter potencial e ser viável para tal uso. A própolis enviada para o exterior é geralmente vendida na forma bruta, in natura, que é a mais barata.

Beatriz concorda e explica que a operação do processo não precisa de técnicos muito especializados. “Você coloca em regime de operação delimitando qual a pressão mais indicada. A própria limpeza da membrana é o que a gente chama de clean in place – colocamos uma solução de limpeza para rodar no próprio equipamento e a membrana fica limpa e pronta para o próximo estágio” afirma.

O mercado para a própolis verde brasileira é promissor. “A própolis verde do Brasil é reconhecida internacionalmente por sua qualidade”, afirma Beatriz. Ela conta que o Japão é um grande importador da própolis nacional porque eles constataram que além do grande valor funcional, ela apresenta menor contaminação por metais pesados. A consultoria alemã Analyze & Realize aponta em um artigo sobre o mercado global de fitoterápicos que esta área apresenta uma taxa média de crescimento de 6,4% ao ano, atingindo US$ 83 bilhões em 2008. 53% dessa produção é orientada para a indústria farmacêutica, enquanto os seguimentos de alimentação funcional e produtos de beleza têm 17% da parcela cada.

Fonte: Jornal Unicamp - ANO XXIV – Nº 439 

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Pesquisadores desenvolvem metodologias que constatam adulteração no leite em pó

Trabalhos feitos no IQ orientam inquérito aberto pela Polícia Federal


O médico veterinário Gustavo Sanvido, um dos autores do trabalho: substâncias alteram as características e as propriedades do produto (Fotos: Antoninho Perri)Na série televisiva norte-americana CSI, cientistas-investigadores lançam mão de conhecimentos sofisticados e equipamentos de última geração para decifrar os mais intrincados casos de assassinatos. Descontados os exageros próprios da ficção, algumas técnicas mostradas pela produção encontram similaridade nos procedimentos adotados na vida real. No Instituto de Química (IQ) da Unicamp, mais especificamente nas dependências do Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas, pesquisadores têm desenvolvido métodos originais para a identificação de fraudes perpetradas contra os consumidores brasileiros.  A exemplo de seus pares hollywoodianos, eles transformam a ciência numa poderosa arma contra o crime. Recentemente, por exemplo, esses “caçadores de falcatruas” conceberam, a pedido da Polícia Federal (PF), duas metodologias capazes de constatar adulterações no leite em pó. Os trabalhos ajudaram a orientar o inquérito da PF.
O pedido para que os pesquisados do Laboratório Thomson ajudassem a identificar possíveis adulterações no leite em pó partiu da PF, em meados de 2008. Naquela oportunidade, o órgão havia deflagrado a chamada Operação Lactose, destinada a apurar esse tipo de fraude. Uma quadrilha chegou a ser presa na Paraíba, acusada do crime. A missão dos cientistas da Unicamp foi desenvolver técnicas para identificar a possível adição ao produto alimentício de maltodrextina, um carboidrato complexo proveniente da conversão enzimática do amido de milho, e de gordura vegetal. De acordo com o médico veterinário Gustavo Sanvido, doutorando pelo Thomson e um dos autores do trabalho, as duas substâncias não são patogênicas, mas alteram as características e propriedades do leite em pó. As pesquisas contaram também com a participação dos químicos Boniek Gontijo Vaz e Yuri Eberlim de Corilo, ambos doutorandos do laboratório; da química Jerusa Simone Garcia, que fez o pós-doutorado na unidade e atualmente é professora da Universidade Federal de Alfenas (Unifal); e de Martin Peter, professor da Universidade de Potsdam (Alemanha) e pesquisador colaborador do Thomson.
Segundo Gustavo, laboratórios oficiais vinculados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) dispõem de uma técnica para a detecção de maltodrextina. Ocorre, porém, que o método não é totalmente confiável. “Ele frequentemente gera resultado falso negativo. Daí a necessidade de desenvolvermos uma alternativa eficaz”, explica. Para identificar a possível presença do carboidrato nas amostras de leite fornecidas pela PF, os pesquisadores da Unicamp usaram dois caminhos diferentes. Primeiro, submeteram essas amostras a um tratamento específico, de modo a precipitar as proteínas e chegar a uma fase líquida. Em seguida, promoveram a análise química num equipamento denominado espectrômetro de massas. A outra via seguida foi diluir o leite em pó em água e “injetar” diretamente no mesmo aparelho.
Nos dois testes, conforme o médico veterinário, foi possível identificar a presença da maltodrextina nas amostras. “Nos gráficos gerados pelo espectrômetro, ficou muito clara a existência tanto de íons da lactose quanto de íons do carboidrato. Por associação, foi como comparar duas impressões digitais diferentes”, detalha o pesquisador. Para averiguar a eventual mistura de gordura vegetal ao leite em pó, os cientistas seguiram um processo um pouco mais trabalhoso. “Nós tivemos que extrair a gordura presente no leite, para depois submetê-la à análise química, também no espectrômetro. Não conseguimos determinar exatamente que gordura vegetal havia sido acrescentada ao produto, mas identificamos sem sombra de erro a presença da substância nas amostras fornecidas”, assegura.
Um dos equipamentos utilizados (Fotos: Antoninho Perri)A adição de gordura vegetal e maltodrextina ao leite em pó já representa uma adulteração, como observa Gustavo. O médico veterinário destaca, porém, que essas substâncias também podem constituir indício de outras eventuais fraudes. “Em tese, esses elementos podem ser misturados ao leite com o objetivo de mascarar outras alterações”, diz. O uso da gordura vegetal, continua o pesquisador, pode esconder a retirada da gordura original para a produção de creme de leite, produto com maior valor de mercado. Nesse caso, os fraudadores acrescentariam, por exemplo, óleo vegetal ao leite em pó para promover a compensação.
Gustavo acredita que os métodos desenvolvidos pelos cientistas do Laboratório Thomson podem ser facilmente transferidos aos laboratórios oficiais do governo, visto que vários deles contam com o espectrômetro de massas. Ele informa que o Mapa já manifestou interesse em adotar oficialmente a técnica de identificação da maltodrextina. “A pedido do ministério, estamos promovendo novos ensaios para validar o método, condição essencial para que possa ser de fato oficializado”, acrescenta.

Produtividade
Os pesquisadores do Laboratório Thomson têm se especializado, entre outras ações, em identificar fraudes contra o consumidor. Nos últimos anos, eles desenvolveram métodos para constatar eventuais “batismos” em produtos como mel, cachaça, azeite, perfume, gasolina, biodiesel e medicamentos. Em todos os casos foi utilizado o espectrômetro de massas, equipamento extremamente versátil e preciso. Dito de modo simplificado, o aparelho promove a análise química das amostras e gera gráficos que permitem a comparação com os obtidos a partir de amostras padrão. “Por meio de algumas das técnicas aqui desenvolvidas, nós conseguimos até mesmo rastrear a origem de um determinado produto, em função das substâncias nele contidas”, detalha o farmacêutico Renato Haddad, que concluiu seu pós-doutorado no laboratório.
O índice de aplicabilidade das técnicas desenvolvidas no Thomson, cujo coordenador é o professor Marcos Eberlin, impressionam. De acordo com os dados fornecidos pelo próprio laboratório, perto de 75% das pesquisas empreendidas por seus integrantes têm aplicação, seja imediata, seja no médio ou longo prazo. Os indicadores de produtividade da unidade também chamam a atenção. Em quase 16 anos de atividade, foram produzidos 363artigos, entre publicados ou já submetidos a revistas científicas indexadas. Apenas este ano já foram realizados 23 trabalhos, mas o objetivo é alcançar a marca de 45 até dezembro. Os estudos gerados pelo Thomson mereceram ainda 611 citações em 2008 e 492 este ano. Atualmente, o laboratório é um dos centros de pesquisa mais produtivos e conceituados em espectrometria de massas em todo o mundo. Também é um dos mais bem equipados, dado que conta com os principais e mais modernos equipamentos, além de um grupo de cerca de 30 pesquisadores e profissionais especialistas na área.

FONTE: Jornal Unicamp - ANO XXIV – Nº 439