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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Gingko Biloba não estimula a memória, diz pesquisa


O resultado publicado nesta terça-feira no periódico da Associação Americana de Medicina mostra que o suplemento não teve nenhuma eficácia.

Pesquisadores americanos dizem que o medicamento natural Gingko Biloba não tem efeito algum para ativar a memória.

Ele é muito usado no mundo inteiro para aumentar a circulação de sangue no cérebro.

O estudo acompanhou, durante 6 anos, mais de 3 mil idosos, com mais de 72 anos. Metade recebeu um placebo, uma substância sem efeito. A outra metade tomou 240 miligramas de Gingko Biloba por dia, em duas doses.

Nem os pacientes, nem os médicos sabiam quem estava recebendo placebo ou o Gingko.

É o maior e mais longo estudo realizado sobre o Gingko Biloba, uma planta muito usada na medicina chinesa. Mas os pesquisadores só avaliaram os efeitos da planta sobre a memória e atividade mental.

O resultado publicado nesta terça-feira no periódico da Associação Americana de Medicina mostra que o suplemento não teve nenhuma eficácia.

O médico Steven Dekosky, da Universidade da Virginia, que comandou a pesquisa, ficou decepcionado, porque o objetivo era provar os efeitos benéficos do Gingko. Mas a conclusão é que ele não apresenta nenhum benefício.

O doutor Dekosky ressalva que os pesquisadores não encontraram nenhum efeito adverso da substância, que pode ser tomada sem problemas.

Nos Estados Unidos as empresas que vendem Gingko Biloba, com a promessa de que o suplemento ajuda a ativar a memória, faturam por ano US$ 250 milhões.

Um dos fabricantes, ao saber que o novo estudo não encontrou nenhum efeito, sugeriu que os interessados aguardem o resultado de outra pesquisa, que está sendo realizada na França, antes de abandonarem o Gingko Biloba.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária disse que o Ginko Biloba é registrado no Brasil como medicamento fitoterápico.

E que é usado no tratamento de vertigens e zumbidos provocados por problemas circulatórios ou por insuficiência vascular cerebral. Segundo a agência, não existe nenhum questionamento, aqui no Brasil, sobre a eficácia do produto.

Veja Vídeo: Vídeos Rio Alimentos

Fonte: Jornal Nacional - GLOBO

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Pesquisas do IQ detectam propriedades farmacológicas em substâncias naturais

Pesquisador constata, por meio de testes,  atividades antiparasitária, citotóxica e analgésica

ISABEL GARDENAL

A tese de doutorado de Manoel Trindade Rodrigues Júnior, defendida recentemente no Instituto de Química (IQ) da Unicamp, apontou o grande potencial das substâncias beta-carbolínicas como estruturas privilegiadas para o desenvolvimento de fármacos. Estas substâncias, estruturalmente relacionadas a outras presentes em alguns chás alucinógenos como o ayahuasca (ver nesta página), empregados em rituais religiosos e por tribos indígenas da Amazônia, apresentaram uma variedade de propriedades farmacológicas, como atividade antiparasitária contra leishmania e atividade citotóxica contra células de linhagens de câncer humano, além da atividade analgésica sobre o Sistema Nervoso Central (SNC). Uma destas substâncias mostrou uma atividade analgésica comparável à da morfina, o que deve gerar um pedido de patente. A pesquisa – orientada pelo professor Ronaldo Aloise Pilli, do IQ – apresentou duas vertentes: a busca pela atividade farmacológica das beta-carbolinas e o esclarecimento sobre como esta atividade é produzida. Algumas beta-carbolinas já são substâncias naturais reconhecidas por sua destacada atuação sobre o SNC como a reserpina, droga indicada para pessoas hipertensas.


Os ensaios realizados até aqui, comenta Manoel Trindade, apesar de significativos, são ainda preliminares e sugerem uma série de outros ensaios in vivo antes que a propriedade analgésica observada possa levar à produção de um novo medicamento. Estes testes, esclarece Pilli, em geral demoram entre cinco e dez anos. Dependendo dos resultados, este período pode ser maior ou menor também em razão do interesse e da inovação para o estabelecimento de uma nova terapia.

No trabalho de Manoel Trindade, foram desenvolvidas várias metodologias de síntese dessas substâncias, em continuidade a trabalhos anteriores do grupo, quando as bases metodológicas para a preparação dessa família de compostos foram estabelecidas. Na ocasião, foi esboçada uma rota de síntese para preparação de compostos naturais isolados de fontes marinhas. “O nosso interesse era confirmar a estrutura química desses compostos, uma vez que eles tinham sido isolados em pequenas quantidades e a sua estrutura tridimensional ainda não havia sido perfeitamente estabelecida”, explica Pilli. Esta mesma rota, revela ele, foi aproveitada nesta pesquisa de doutorado.

Desenvolver essas rotas de síntese assimétrica eficientes permitiu a preparação de um conjunto de substâncias naturais, dentre as quais se incluem a tripargina, deplancheína, debromo arborescidina, harmicina, cantin-6-ona e 10-metoxi-cantin-6-ona e dois análogos da harmicina. Posteriormente, houve uma avaliação farmacológica que incluiu a avaliação da atividade citotóxica, leishmanicida e sobre o SNC que foram realizados em colaboração com o grupo do professor João Ernesto de Carvalho, do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp, e do professor Sergio Albuquerque, da Universidade de São Paulo, de Ribeirão Preto. Somado aos efeitos analgésicos visivelmente pronunciados que foram encontrados para algumas das substâncias sintetizadas, também observou-se que uma das substâncias se destacava pelas suas atividades citotóxica e leishmanicida. Os ensaios biológicos deverão prosseguir, segundo o seu autor, com a ampliação do número de substâncias a serem preparadas e testadas em razão dos resultados já alcançados.

Síntese

Equipamentos usados nas pesquisas: ensaios biológicos vão prosseguir (Foto: Antoninho Perri) “Estima-se que aproximadamente 25% das novas substâncias farmacologicamente ativas descobertas nos últimos 25 anos são produtos naturais ou derivados de produtos naturais. Esse número sobe para mais de 50% se incluirmos produtos sintéticos que mimetizam produtos naturais ou cujo grupo farmacofórico é inspirado em produtos naturais”, informa Pilli. “Daí a importância de estudar os compostos naturais e desenvolver novas metodologias para alcançar a síntese destes compostos com bons rendimentos, amparando-se na síntese orgânica catalítica e assimétrica. Afinal, ao longo da evolução, esses metabólitos secundários foram selecionados de modo a interagir com alvos biológicos, garantindo vantagem adaptativa aos seus portadores. Trata-se portanto de estruturas pré-validadas do ponto de vista de atividade biológica.”

O grupo do IQ vem acenando, há algum tempo, na direção de aproveitar substâncias que são encontradas na natureza e que possam se constituir plataformas para o desenvolvimento de substâncias com propriedades farmacológicas relevantes. “A natureza tem sido a principal fonte de busca de um grande número de fármacos que foram e estão sendo desenvolvidos. A nossa contribuição está em aproveitar algumas destas substâncias, desenvolver um método de síntese em laboratório que eventualmente possa ser aproveitado em escala industrial e, ao mesmo tempo, prover a preparação de análogos de substâncias naturais”, resume Pilli. “Isso muitas vezes colabora para melhorar a performance de uma determinada substância farmacologicamente ativa, já que a ideia é minimizar os efeitos indesejados simultaneamente à manutenção da atividade terapêutica desejada.”

Manoel Trindade acredita que estudos futuros precisarão ser realizados com a síntese de outros análogos, a fim de se alcançar uma clara correlação entre estrutura química e atividade farmacológica, além de poder avançar no entendimento do modo de ação dessas substâncias no que se refere à atividade contra parasitos, contra células de câncer humano e atividade analgésica. O que ele sequer imaginava era que a vida que levava em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana de Goiânia, quando trabalhou como vendedor de picolés, office-boy e marceneiro, algum dia lhe traria a versatilidade necessária para atuar como pesquisador e lançar luz sobre temas ligados à Síntese Orgânica.


Ayahuasca, da planta à bebida

Ayahuasca, nome quíchua de origem inca, refere-se a uma bebida sacramental produzida a partir da extração de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó Banisteriopsis caapi (caapi ou douradinho), que serve como IMAO (classe de fármacos que inibem a ação da monoamina oxidase), e folhas do arbusto Psychotria viridis (chacrona), que contêm o princípio ativo dimetiltriptamina. É também conhecida por yagé, caapi, nixi honi xuma, hoasca, vegetal, Santo Daime, kahi, natema, pindé, dápa, mihi, vinho da alma, professor dos professores, pequena morte, entre outros.

O nome mais conhecido, ayahuasca, significa “liana (cipó) dos espíritos”. A ingesta de yagé permite aos xamãs sonharem e se transportarem ao mundo espiritual ancestral. O chá é utilizado ainda pelos incas e também por pelo menos 72 tribos indígenas diferentes da Amazônia e em países como Peru, Equador, Colômbia e Bolívia.

O uso dessas plantas pelos mestiços em geral acontece dentro do contexto da etnomedicina e segue os princípios gerais do emprego tradicional dos nativos (uso xamanista) com modificações e acréscimos pertinentes aos diversos sistemas de crenças religiosas importados com a colonização. A sua utilização se expandiu para outras partes do mundo, com o crescimento de movimentos religiosos como o Santo Daime, A Barquinha, Natureza Divina e a União do Vegetal. Muito do que se pratica e conhece sobre ayahuasca vem da observação e do conhecimento empírico acumulado pelos indígenas.

Fonte: Jornal Unicamp - ANO XXIV – Nº 449

sábado, 19 de dezembro de 2009

Prêmio de pesquisa em segurança alimentar


Rede de Pesquisa em Segurança Alimentar e Nutricional (Redsan) lança o 2º Prêmio a Artigos de Pesquisa em Temas de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN)

Mudanças climáticas, desigualdades sociais, aumento do preço dos alimentos, conflitos militares, corrupção ou altos índices de natalidade. São muitos os agravantes dos problemas relacionados à fome ou à alimentação inadequada e que colaboram para que cerca de 800 milhões de pessoas passem fome em todo o mundo, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).

A fim de incentivar pesquisadores de várias áreas a estudar soluções para esses desafios, que se concentram especialmente nos países mais pobres, a Rede de Pesquisa em Segurança Alimentar e Nutricional (Redsan) lançou o 2º Prêmio a Artigos de Pesquisa em Temas de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN).

A edição atual do prêmio conta com o apoio do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A Redsan, ligada ao escritório regional para América Latina e Caribe da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), pretende premiar destacados trabalhos científicos de instituições de pesquisa de qualquer parte do mundo, contanto que seu autor principal seja do continente latino-americano ou do Caribe.

Os trabalhos devem ser inscritos até o dia 31 de janeiro de 2010 e redigidos em espanhol, inglês ou português. Os vencedores serão divulgados no dia 15 de março do ano e haverá prêmios em dinheiro de US$ 3 mil a US$ 500, do primeiro ao quinto colocado.


Ao se inscrever, o autor deve optar entre uma das quatro áreas: 1) impacto da crise econômica e financeira sobre a SAN; 2) metodologias e instrumentos para a medição e análise da SAN; 3) temas emergentes (transição nutricional, bicombustíveis e variabilidade climática), e 4) relação entre o enfoque SAN e outros enfoques de desenvolvimento.

Mais informações: www.redsan.org
(Agência Fapesp, 16/12)

CTNBio livrará transgênico de análise de risco


Órgão vai votar o fim do monitoramento dos efeitos sobre a saúde humana e dos animais

Mauro Zanatta escreve para o "Valor Econômico":
 
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) votará, nesta quinta-feira (10/12), o fim do monitoramento dos efeitos adversos de organismos geneticamente modificados sobre a saúde humana e animal, o ambiente e os vegetais. A modificação desobrigará as empresas de biotecnologia de realizar estudos científicos de avaliação de risco e de apresentar planos de monitoramento pós-liberação comercial de transgênicos no país.
 
A nova regra deve "anistiar" os 25 produtos transgênicos (plantas, vacinas e enzimas) que já obtiveram liberação comercial e beneficiará outros 11 pedidos sob análise do colegiado, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. A alteração na Resolução Normativa nº 5, em vigor desde março de 2008, dependerá do voto de apenas 14 dos 27 membros titulares da CTNBio. O grupo favorável à mudança somaria hoje 16 votos.
 
A iniciativa da CTNBio dispensará as empresas de de apresentar informações complementares e novos dados científicos para atender às exigências dos estudos de análise de risco sobre os efeitos adversos potenciais de transgênicos e seus derivados nos vários aspectos. A medida também beneficiará diretamente a indústria alimentícia brasileira. Dirigentes da associação da indústria (Abia) escreveram ao ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, para reclamar o fim do monitoramento e ameaçariam derrubar a exigência na Justiça.
 
O presidente da CTNBio, o médico bioquímico Walter Colli, confirma a proposta de alteração na regra. "Essas coisas não fazem mal. E, se fizerem, ninguém vai saber porque não tem como monitorar todo mundo. O argumento jurídico que se coloca é que monitorar só se justificaria se houvesse dúvida na análise de risco. Se o produto é idêntico ao convencional, não há razão para monitorar", diz. "Estamos propondo deixar isso como não obrigatória. A comissão dirá em quais casos seria necessário".
 
Professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), Colli está no segundo mandato de presidente da comissão. "É um absurdo fazer monitoramento de efeitos em humanos porque 15 mil produtos têm derivados de soja na sua composição. Como saber se o problema é do produto ou da água que uma pessoa bebeu?", questiona.
 
O presidente da CTNBio garante que o fim dos monitoramentos não causará problemas à população. "O monitoramento humano e animal foi uma esparrela, uma bobagem que fizemos. Cedemos pelo cansaço. Agora, a indústria alimentícia está sujeita a uma ação jurídica do Ministério Público por uma regra inepta da CTNBio. Cometemos um erro e quero corrigir isso", afirma.
 
A proposta de alteração reacendeu a disputa política e a oposição de um grupo minoritário de cientistas e ONGs dentro da CTNBio. Representantes dos ministérios da Saúde, do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário e da Pesca prometem questionar o fim do monitoramento. E acusam Colli de usar como pretexto uma carta do governo do Canadá contra a resolução para "retalhar" as normas.
 
"É um absurdo isso. Vão colocar como desculpa a carta do Canadá para algo que já queriam fazer. É um processo primário", diz o representante do Ministério do Meio Ambiente, o geneticista Paulo Kageyama. "O Ministério da Saúde também reagiu contra isso, ameaçou se retirar da última plenária"
 
Em defesa da alteração, Walter Colli reafirma a autonomia da CTNBio. "Entendo a desconfiança, mas é bobagem. Isso prejudica toda a indústria. Tenho suporte e um parecer jurídico do Ministério da Ciência e Tecnologia. Não estou fazendo porque o Canadá reclamou. A Abia [associação da indústria de alimentos] já mandou carta para o ministro sobre isso", afirma.
 
Colli diz que "essa resolução sempre me incomodou" e admite que a atual regra só foi criada porque o processo de liberações comerciais de transgênicos passou a exigir, por iniciativa do Ministério Público, "monitoramento" das aprovações. "Senão não poderia liberar". Colli afirma que a resolução "está errada" e que "dá responsabilidade a quem não tem obrigação, interfere na cadeia onde não temos direito". "Isso cai em qualquer instância da Justiça".
(Valor Econômico, 8/12)

 Fonte: Jornal da Ciência - 08.12.09

Café e chá são ligados a menor risco de diabetes

Consumo foi associado a até 36% menos chances de sofrer da doença

Antioxidantes presentes nesses alimentos poderiam atuar nas células produtoras de insulina, evitando sua oxidação e posterior lesão

JULLIANE SILVEIRA DA REPORTAGEM LOCAL

O consumo regular de café ou chá pode reduzir o risco de diabetes tipo 2, mostra uma metanálise de 18 estudos publicada no "Archives of Internal Medicine". Os pesquisadores avaliaram trabalhos que consideraram a ingestão de café normal, descafeinado e chá.

Após excluírem variáveis que poderiam influenciar no aparecimento do diabetes, eles calcularam, em comparação com quem não ingere nenhuma dessas bebidas, que cada xícara (150 ml) de café diária reduz em 7% as chances de desenvolver a doença. No caso do descafeinado, o consumo de três ou quatro xícaras por dia foi relacionado a um risco 36% menor, e quem bebia a mesma quantidade de chá apresentou 18% menos chances.

Uma das hipóteses é a de que substâncias antioxidantes presentes nas bebidas, como os ácidos clorogênicos, atuem nas células beta, responsáveis por sintetizar insulina (hormônio que promove a absorção de glicose). O excesso de oxidação pode lesar as células.

A UnB (Universidade de Brasília) também desenvolve uma pesquisa para avaliar a ação do café na prevenção de diabetes. Foram entrevistados por telefone cerca de mil voluntários. Desses, 70 foram avaliados em laboratório. Os dados serão divulgados em 2010, mas os resultados preliminares são bons.

"Populações de diferentes países apresentaram resultados consistentes, e agora avaliamos no Brasil. Várias pesquisas apontam que quem consome café regularmente tende a desenvolver o quadro de diabetes mais tardiamente. No entanto, temos o hábito de consumir com açúcar e, por isso, podemos ter diferença de resposta", afirma a nutricionista Teresa Helena Macedo da Costa, uma das responsáveis pelo trabalho e professora da UnB.

Quanto consumir

Pesquisadores indicam a ingestão diária de até 600 ml de café filtrado por dia ou de chá, o equivalente a quatro xícaras, para se obterem os benefícios. "Esses estudos mostram que, do ponto de vista cardiológico, não há razões para evitar tomar café", afirma o cardiologista Luiz Antônio Machado César, do InCor (Instituto do Coração), onde também pesquisa sobre consumo de café e problemas cardiovasculares.

"É uma revisão de vários estudos, mas isso não se transfere para a prática clínica de imediato. Quando sai um trabalho em uma revista de impacto, a interpretação pode ser "vamos tomar café para prevenir diabetes", mas não é assim", contrapõe Antônio Roberto Chacra, diretor da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) de São Paulo. Médicos ouvidos pela Folha e os autores do estudo consideram que ainda faltam estudos controlados que comparem pessoas que consomem as bebidas com grupos controle que não as ingerem para ser possível passar a uma indicação clínica desses alimentos

Fonte: FSP

Adolescentes consomem menos fibra que o indicado


Na população geral, 65,6% ingerem pouca quantidade

RACHEL BOTELHODA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo realizado com 4.000 moradores de Pelotas (RS) mostra que 65,6% da população consome alimentos fontes de fibra em uma frequência inferior à recomendada. Entre os adolescentes, 77,8% apresentam ingestão inadequada do nutriente. Os idosos têm o consumo menos impróprio: 54,6% não consomem a quantidade indicada.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, apenas de 5% a 25% da população atende à recomendação de consumo de fibras alimentares. "O número [de consumo inadequado] é altíssimo e não deveria ocorrer, mas está dentro do que outros estudos, feitos em outras cidades, haviam mostrado", diz o nutricionista Daniel Baldoni, da Faculdade de Saúde Pública da USP.

Sobre o fato de os adolescentes formarem o grupo que menos consome fibras, Baldoni afirma que é preocupante porque eleva o risco de levarem para a vida adulta maus hábitos alimentares. "Os alimentos fontes de fibras também têm vitaminas e, se esse resultado se mantiver a longo prazo, eleva o risco de doenças crônicas, como hipertensão, alguns cânceres, obesidade e diabetes."

Presentes em frutas, verduras, legumes e alimentos naturais, as fibras são importantes para o bom funcionamento intestinal, aumentam a sensação de saciedade e ajudam a diminuir o colesterol. A recomendação é ingerir cinco porções desses alimentos diariamente. "Comer salada no almoço e no jantar, um legume cozido em uma das refeições, mais duas frutas já dá cinco porções. É fácil alcançar essa meta."

Fonte: FSP

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Gomas de Colágeno


Trata-se de um confeito de açúcar com 2 g de colágeno hidrolisado, que promete melhorar a textura da pele, suavizar rugas, auxiliar o crescimento e o fortalecimento dos cabelos e das unhas e ajudar a emagrecer.

O colágeno é facilmente produzido pelo organismo a partir de fontes alimentares de proteína. "A não ser que a pessoa tenha uma insuficiência proteica enorme, ela não precisa de fontes suplementares de colágeno", diz o dermatologista Davi de Lacerda, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Segundo ele, o colágeno está de fato associado à sustentação da pele, mas não há base científica para afirmar que a ingestão extra do nutriente aumente a sua produção. "Com o envelhecimento, há uma diminuição da produção de colágeno pelo organismo, mas nenhum estudo mostrou que aumentar o aporte nutricional da substância aumenta o colágeno nos tecidos do corpo", diz Lacerda.

Ele também afirma que não há nada especialmente emagrecedor no colágeno hidrolisado. Os revendedores do produto dizem que a goma ajuda a emagrecer por gerar a sensação de saciedade, especialmente se for consumida com água. Para Lacerda, o colágeno hidrolisado produz certa saciedade, não maior do que as fibras alimentares, e pode "inchar" no estômago com a água, mas o efeito é pequeno e dura pouco.

Fonte: FSP

sábado, 5 de dezembro de 2009

Tecnologia verde obtém extratos a partir da raiz do ginseng brasileiro

Processo desenvolvido em laboratório da FEA não gera resíduos na matriz e no produto final

VÉRONIQUE HOURCADE 

Especial para o JU

Extrair o maior benefício das plantas, aproveitando espécies nativas da flora brasileira e tendo como base a preocupação com a sustentabilidade. Essas são as premissas do trabalho desenvolvido no Laboratório de Tecnologia Supercrítica: Extração, Fracionamento e Identificação de Extratos Vegetais (Lasefi), da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. Pesquisadores da unidade acabam de desenvolver tecnologia que resultou em processo de extração de substâncias ativas a partir do ginseng brasileiro. Pedido de depósito de patente foi requerido junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), pela Agência de Inovação Inova Unicamp.


O alvo do processo foi a raiz do ginseng brasileiro, que apresenta princípios com efeito anticancerígeno e anabolizante, sendo aplicados também para reforçar a construção muscular, estimular o sistema imunológico e regular o sistema digestivo e trato gastrointestinal. Os princípios extraídos auxiliam, ainda, em tratamentos para a pele e cabelos. O diferencial da pesquisa está no processo de extração, feito através de tecnologia supercrítica.

Dessa forma, a extração do composto biologicamente ativo não gera resíduos tóxicos no produto final e nem na matriz – no caso, a raiz do ginseng –, além de resultar em um processo mais rápido, em relação às técnicas usualmente utilizadas. “É o que se pode chamar de tecnologia verde” define a professora Maria Angela de Almeida Meireles, coordenadora científica do Lasefi e responsável pela pesquisa, que contou também com o envolvimento da pesquisadora Patrícia Franco Leal, gerente de Propriedade Intelectual da Inova Unicamp, e dos alunos de graduação Marina Bascherotto Kfouri e Fábio da Costa Alexandre e auxílio do CNPq, SAE-Unicamp e Fapesp.

Conforme explica Maria Angela, a técnica supercrítica consiste na utilização do dióxido de carbono como solvente, que em condições ambiente é um gás. Submetido à alta pressão transforma-se em um fluido, com características de solubilidade e penetrabilidade com condições propícias para extração dos princípios de interesse. O dióxido de carbono é altamente seletivo, além de ser inerte, atóxico, disponível e não-inflamável. No fim do processo, sob as condições naturais de pressão, volta a ser um gás obtendo-se, de um lado, o composto puro e, do outro, o gás que pode ser reaproveitado inúmeras vezes através do reciclo. Portanto, a etapa de separação solvente sólido de interesse (princípios ativos) é rápida e fácil.

Os pesquisadores ressaltam que tanto os compostos extraídos quanto a matéria-prima ficam livres de resíduos e solventes tóxicos. “Não há agressão ao meio ambiente ou à saúde”, afirma Maria Angela. As técnicas de extração convencionais utilizadas apresentam resultados menos satisfatórios: ou pelo fato de o processo ser altamente tóxico (devido ao uso de solventes orgânicos tóxicos, como metanol) ou por apresentar baixo rendimento – quando o solvente utilizado é água em ebulição, que acaba exigindo, ainda, uma operação para remoção da água, resultando em elevado consumo de energia e aumento do custo de produção.

Além do benefício da tecnologia limpa (clean technology) ou tecnologia verde (green technology), com resultado de qualidade e processo rápido, a tecnologia supercrítica permite a utilização de uma unidade industrial multipropósito. Patrícia Leal explica que a unidade industrial pode trabalhar com diversas matrizes vegetais produzindo diferentes tipos de produtos, de acordo com a necessidade ou com o princípio alvo de interesse. Levando em consideração que algumas matérias-primas são sazonais, esta flexibilidade da planta industrial reforça a viabilidade econômica do investimento. Esta questão foi seu objeto da tese de doutorado, defendida em fevereiro de 2008 e intitulada “Estudo Comparativo entre os custos de manufatura e as propriedades funcionais de óleos voláteis obtidos por extração supercrítica e destilação por arraste a vapor”.

“O investimento para implantação da unidade industrial supercrítica é mais elevado em relação a outros processos de extração convencionais, no entanto o estudo de estimativa de custo de manufatura realizado com diversas matérias-primas demonstrou que o impacto do custo da matéria-prima é predominante em relação ao custo do investimento inicial e, portanto, ao comparar o custo de manufatura entre diferentes processos de extração, a tecnologia supercrítica é competitiva a longo prazo”, avalia Patrícia. No exterior existem várias empresas que operam com tecnologia supercrítica conforme citadas em sua tese de doutorado. “Vários ingredientes utilizados pela nossa indústria nacional provêm da importação de produtos obtidos por tecnologia supercrítica, sem que a maioria tenha esta informação, como é o caso do extrato de lúpulo utilizado nas cervejarias nacionais” afirma Patrícia.

Outro fator destacado é em relação ao solvente. O mundo se prepara para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), marcada para dezembro, em Copenhague (Dinamarca), na qual se pretende definir índices de redução de emissão de gases responsáveis pelo agravamento do processo de efeito estufa. Enquanto não há essa definição, uma alternativa para amenizar o problema é o sequestro de carbono. A tecnologia supercrítica empregada no extrato de compostos ativos do ginseng brasileiro e outros quatro pedidos de patente do mesmo grupo de pesquisa utilizam, justamente, o dióxido de carbono. “É um dos gases responsáveis pelo efeito estufa”, reforça a professora Maria Angela, acrescentando que a empresa que implantar esse processo de extração poderá se beneficiar do sistema de créditos de carbono.

Planta nativa brasileira, o ginseng é cultivado no país. De acordo com dados publicados pela revista Globo Rural (março de 2009), 30 toneladas da planta são enviadas por mês ao Japão. O questionamento que a professora Maria Angela faz é em relação à exportação da matéria-prima bruta, sem valor agregado. “Produzindo extratos de qualidade, o produto pode alcançar grande competitividade”, defende. O grupo de pesquisa atua na área de engenharia de processos e, segundo ressalta Patrícia, o grande desafio é o de obter um produto diferenciado, com melhores qualidades sensoriais, isentos de solvente e com características mais próximas da característica in natura. “Os grandes desafios normalmente surgem com um problema ou uma necessidade detectada no mercado”, aponta Patrícia. O composto do ginseng brasileiro, rico em beta-ecdisterona, é de interesse da indústria que trabalha com processamento de produtos naturais e que abastece indústrias farmacêuticas e de cosméticos. Maria Angela e Patrícia ressaltam que as raízes utilizadas na pesquisa foram adquiridas da Fazenda Experimental do CPQBA/Unicamp.

Aproveitamento do todo para  um desenvolvimento sustentável

O Laboratório de Tecnologia Supercrítica, antes chamado de Laboratório de Separações Físicas, foi criado em 1984 e mais de 50 teses resultam de pesquisas desenvolvidas com a proposta de se estudar processos de produção de extratos, por meio do uso de tecnologias limpas. A professora Maria Angela comenta que o foco é a investigação com plantas nacionais e que são cultivadas. Entre os trabalhos realizados está o processo de extração de plantas aromáticas e medicinais, inclusive de partes de plantas antes não utilizadas, como a folha de ginseng brasileiro e também resíduos de outras matérias-primas. “A grande diretriz do grupo de pesquisa Lasefi-FEA-Unicamp é o de impulsionar o desenvolvimento da engenharia e processo objetivando o desenvolvimento tecnológico para garantir produtos de maior valor agregado e competitivos internacionalmente”, reforça Patrícia.

Patrícia Leal ressalta que um dos desafios é conseguir o aproveitamento de todas as partes da planta, principalmente daquelas que, a princípio, não despertam interesse comercial. Essa proposta se justifica pelo fato dos princípios ativos encontrados na folha do ginseng, por exemplo, serem diferentes dos que estão presentes na raiz. “Não se obtém os mesmos compostos. As condições do processo de extração também são diferentes para a extração da folha e da raiz de uma mesma planta”, destaca Patrícia, acrescentando que as condições processuais diferem também entre diferentes plantas.

A proposta de conseguir o máximo de aproveitamento motivou o estudo que resultou no pedido de depósito de um pedido de patente de “Processo de Extração de Componentes Ativos da Cera Contida na Torta de Filtro Resultante do Processamento da Cana-de-Açúcar Empregando Processo de Extração Supercrítica”. A intenção foi a de agregar valor a esse resíduo da indústria canavieira, que possui classes de compostos de interesse comercial, podendo ser utilizados como ingredientes em alimentos, tornando-os alimentos funcionais. “É o caso dos hipercolesterolêmicos, pois os princípios ativos obtidos pelo processo em trâmite de proteção reduzem o colesterol no sangue e já é uma classe de compostos cujo efeito é reconhecido pelo Conselho de Cardiologia”, explica Patrícia.


A plataforma de desenvolvimento no Lasefi é ampla e todas as pesquisas estão norteadas pelo conceito da busca pelo desenvolvimento sustentável. Conforme consta na página eletrônica do Laboratório, “os seus valores determinam o uso de tecnologias de produção limpas, que preservem o meio ambiente e não tragam danos à saúde humana e animal, em todas as etapas de processamento, através do uso de tecnologias inovadoras, como a extração e o fracionamento com fluidos supercríticos”. Além disso, está a preocupação com a viabilidade econômica da implantação das tecnologias desenvolvidas e a geração de valor agregado.

Fonte: Jornal Unicampo – ANO XXIV – Nº 448