Pesquisa personalizada

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Dieta pobre em carboidratos danifica as artérias, diz estudo


Da BBC Brasil

Cientistas americanos sugerem que as dietas pobres em carboidratos e ricas em proteínas aumentam o risco de infartos e ataques cardíacos porque causam danos nas artérias.

Os pesquisadores do Beth Deaconess Medical Center, da Universidade de Harvard, testaram três dietas diferentes em camundongos e afirmam que a alimentação rica em peixes, carnes e queijo – como as dietas de Dr. Atkins e South Beach, por exemplo – causaram danos às artérias dos roedores.

Os animais foram divididos em três grupos: o primeiro recebeu uma dieta padrão, o segundo uma dieta ocidental rica em gordura e o terceiro recebeu uma dieta pobre em carboidratos e rica em proteínas.

Depois de 12 semanas, os cientistas analisaram os camundongos e identificaram que a dieta pobre em carboidratos não havia alterado os níveis de colesterol nos animais testados. A equipe identificou, no entanto, uma diferença significativa no impacto na arteriosclerose – formação de uma placa de gordura na parede arterial que pode levar a ataques cardíacos e infartos.

Segundo os resultados, publicados na edição mais recente da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, os camundongos que receberam a dieta pobre em carboidratos haviam ganhado menos peso, mas desenvolveram 15% a mais de arteriosclerose do que aqueles com a dieta padrão. O grupo que recebeu a dieta ocidental apresentou um aumento de 9% nos níveis de arteriosclerose.

Os pesquisadores não explicaram as razões para esse efeito negativo nas artérias, mas sugerem que as dietas pobres em carboidratos podem afetar o modo como as células da medula óssea limpam os depósitos de gordura das artérias.

As dietas ricas em proteínas e que reduzem ou cortam o consumo de carboidratos atraíram atenção e controvérsia depois de um aumento de adeptos desses regimes na década de 90.

Efeitos

Segundo o pesquisador Anthony Rosenzweig, principal autor do estudo, os resultados foram tão preocupantes que ele decidiu interromper a dieta pobre em carboidratos que estava seguindo.

“Nossa pesquisa sugere que, pelo menos em animais, essas dietas podem ter efeitos cardiovasculares adversos”, disse.

“Tudo indica que uma dieta equilibrada, combinada com exercícios frequentes é provavelmente melhor para a maioria das pessoas”, afirmou o pesquisador.

Joanne Murphy, da Stroke Association, também afirmou que uma alimentação equilibrada é a melhor recomendação.

“Sabemos que alimentos como a carne vermelha e produtos lácteos, ricos em proteínas, também contém altos níveis de gordura saturada que podem ficar armazenadas nas artérias”, afirmou.

Murphy afirmou ainda que a pesquisa da Universidade de Harvard ainda está no estágio inicial e que ela gostaria de ver mais avanços no assunto.

Ellen Mason, da ONG British Heart Foundation, afirmou que é difícil aplicar os resultados em humanos, mas afirmou que as dietas ricas em proteínas “não são tão saudáveis quanto a alimentação equilibrada”.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Banana de manhã emagrece. Será?

A fruta entra obrigatoriamente na primeira refeição do dia e está afinando a cintura dos japoneses, fãs de carteirinha da chamada Dieta da Banana Matinal

por Thais Cavalheiro

Já ouviu falar nesse regime? Se a respostar for não, é só uma questão de tempo. Essa fruta tão popular entre nós está emagrecendo muita gente no Japão e nos Estados Unidos, países que reúnem um número cada vez maior de adeptos. Desenvolvida por Hitoshi Watanabe, um especialista em medicina preventiva em Tóquio, ela caiu na boca do povo. Literalmente. Nunca se vendeu tanta banana por lá como no último verão, época do ano em que normalmente a melancia, entre outras frutas mais apropriadas para sucos refrescantes, é a mais consumida.

A tal dieta consiste basicamente no seguinte: no café da manhã, o candidato a magro pode comer bananas à vontade e nada mais. É desejável que beba também água em temperatura ambiente. O motivo? Bem, sabe-se que o líquido dá saciedade. Então, entraria como um coadjuvante para espantar a fome. Nas refeições seguintes, pode-se comer de tudo, mas só até as 8 da noite. Após o jantar, nada de sobremesa. Já o lanchinho da tarde permite até uma guloseima. Os únicos itens proibidos são sorvetes, derivados do leite e álcool.

A nutricionista Vanderlí Marchiori, de São Paulo, acredita que esse tipo de dieta não traga prejuízos à saúde. “Isso porque não restringe nenhum grupo de nutriente”, justifica. “Os carboidratos, tidos como vilões do emagrecimento, não ficam de fora, o que é ótimo. E a proibição de laticínios e álcool não chega a ser nenhum pecado. Afinal, esses produtos desencadeiam processos inflamatórios.”

E pensar que a banana carrega o peso de ser engordativa. "Essa fama é injusta. Na verdade, além de matar rapidamente a vontade de comer, ela contém enzimas que aceleram a digestão, favorecendo uma rápida perda de peso. Sem contar que também tem fibras do tipo solúvel, aquelas que se ligam à água, formando uma espécie de gel que demora para sair do estômago”, completa Vanderlí.

O poder emagrecedor da banana deve-se também ao amido resistente, um carboidrato complexo encontrado na batata, em leguminosas e massas integrais e que, dentro do corpo, se comporta como uma fibra, favorecendo o funcionamento do intestino e dando aquela sensação de barriga cheia. Detalhe: o amido resistente aparece muito mais na banana verde.

Pelo sim, pelo não, começar o dia comendo banana só pode fazer bem. Afinal, tanto a banana-prata, como a da terra, a ouro e a maçã – para citar as mais apreciadas em terras brasileiras – são lotadas de potássio, mineral imprescindível para os músculos, como bem sabem os atletas.


FONTE: Saúde - Abril

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Bebidas sem açúcar ajudam no controle do peso.

Uma pesquisa publicada no "International Journal of Obesity" mostra que o consumo de bebidas sem açúcar (adoçadas com adoçantes artificiais) aumenta o controle da dieta em um programa de manutenção de peso.

Os pesquisadores acreditam que, embora o uso desses produtos não resulte em perda de peso automática, o consumo pode ajudar a reduzir a quantidade de calorias ingeridas.

Eles avaliaram o consumo de calorias, proteínas, carboidratos, gorduras e bebidas de 300 pessoas.

Fonte: Click RBS

Suco com soja tem baixo teor de composto benéfico

Da Folha Online

Uma pesquisa feita na Universidade de São Paulo constatou que a quantidade de isoflavonas nas bebidas à base de soja contendo suco de frutas é muito pequena. Por outro lado, bebidas que não possuem suco -puras ou com aromatizantes sabor morango ou chocolate, por exemplo- podem ser uma boa fonte dessas substâncias.

"As isoflavonas são uma classe de compostos extensivamente estudada até o momento e que parece relacionar-se com a redução de risco de doenças crônicas não transmissíveis", diz a nutricionista Kátia Callou, autora do estudo.

Vários artigos associam o consumo de isoflavonas à queda na incidência de tumores, de doenças cardiovasculares e de osteoporose, entre outros

Com estrutura química parecida à do estrógeno, elas se ligam a receptores no organismo produzindo um efeito similar ao do hormônio humano, porém muito mais fraco. Por isso, muitos trabalhos também têm apontado benefícios da ingestão desses compostos na redução dos sintomas da menopausa, como os fogachos.

"A soja é a principal fonte desses compostos, e os brasileiros não têm hábito de consumir esse alimento", afirma Callou.
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Leia a íntegra em:
Reportagem Folha Online

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Tese investiga microorganismos que danificam embalagens de carne bovina

MANUEL ALVES FILHO

A química de alimentos Vanessa Pires da Rosa, autora da pesquisa, durante análise (Foto: Antoninho Perri)Maior exportador de carne bovina do mundo, o Brasil negociou 2,2 milhões de toneladas do alimento em 2008, o que lhe rendeu US$ 5,3 bilhões em divisas, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Apesar desse desempenho, o país tem encontrado problemas para colocar o produto no mercado internacional, em razão das rigorosas barreiras sanitárias impostas pelos compradores. Uma dificuldade recente enfrentada pelos produtores nacionais tem sido causada por dois microorganismos que, embora não sejam patogênicos, provocam o estufamento das embalagens a vácuo onde os cortes são acondicionados sob refrigeração. “A carne nessa condição é imediatamente rejeitada pelos importadores”, afirma a química de alimentos Vanessa Pires da Rosa, que investigou a questão em sua tese de doutoramento, apresentada na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. No trabalho, orientado pelo professor Arnaldo Yoshiteru Kuaye e pela bióloga Dirce Yorika Kabuki, ela isolou, identificou e testou métodos de controle dos referidos microorganismos.

De acordo com Vanessa, os problemas em destaque começaram a ocorrer, há alguns anos, com frigoríficos brasileiros exportadores de carnes bovinas, especialmente os instalados no Estado de São Paulo. Por conta disso, algumas empresas resolveram procurar a FEA para propor parceria para o desenvolvimento de um estudo que pudesse identificar as possíveis fontes de contaminação pelos microorganismos cientificamente conhecidos como Clostridium estertheticum e Clostridium gasigenes. Firmada a cooperação, que contou com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o passo seguinte foi o desenvolvimento do projeto, iniciado com visitas aos frigoríficos e coletas de amostras para análises.

A autora da tese conta que visitou em várias oportunidades duas empresas, uma em São Paulo e outra em Goiás. Nas visitas, ela coletou 720 amostras de produtos cárneos e de ambientes, que foram analisadas no Laboratório de Higiene da FEA. “Os ensaios em laboratório foram muito difíceis, pois ambos os microorganismos sobrevivem em ambiente livre de oxigênio. Assim, nós tivemos que recorrer a equipamentos que proporcionassem ambientes totalmente anaeróbios para o seu isolamento”, explica Vanessa. Para a detecção e rastreamento de C. estertheticum e C. gasigenes ao longo da linha de processamento, a pesquisadora recorreu a técnicas de biologia molecular. O rastreamento permitiria a possível associação entre a contaminação dos produtos cárneos e os ambientes ou etapas de processo.

Embalagem estufada em razão da ação de microorganismos (Foto: Antoninho Perri)Conforme Vanessa, foram encontrados ambos os microorganismos nos ambientes dos frigoríficos, sendo que o Clostridium estertheticum, principal causador do estufamento das embalagens a vácuo, foi localizado nas duas empresas. “Nós identificamos os contaminantes em pontos como a serra elétrica que divide a carcaça, o rolete de retirada do couro, o piso da câmara fria, as embaladoras a vácuo e nas próprias carcaças. Estes resultados evidenciam que os frigoríficos precisam melhorar os programas de higienização, para evitar que esse tipo de contaminação se alastre ainda mais”, afirma a química de alimentos.

Em relação ao controle dos microorganismos, Vanessa promoveu testes in vitro com diversos sanitizantes. A partir dos ensaios ficou evidenciado que tanto os esporos de Clostridium estertheticum quanto os de Clostridium gasigenes são sensíveis, por exemplo, ao ácido peracético, substância que poderia vir a ser uma alternativa nos programas de higienização das instalações. “As pesquisas em torno do controle desses microorganismos estão tendo continuidade na FEA, visto que o tema é muito importante para o a indústria cárnea do país. Apenas para dar uma ideia dessa relevância, existem frigoríficos brasileiros que exportam perto de 80% da sua produção”, informa Vanessa. Além de investigar a contaminação da carne nos frigoríficos, a pesquisadora também analisou amostras de produtos adquiridos no comércio varejista de Campinas. A presença destes microorganismos, diz, foi confirmada nas três marcas analisadas.

Deterioração
Os microorganismos Clostridium estertheticum e Clostridium gasigenes não são patogênicos, ou seja, não têm a capacidade de provocar doenças caso sejam ingeridos. Entretanto, ao contaminarem produtos cárneos embalados a vácuo acondicionados sob refrigeração, eles promovem o estufamento desses invólucros. Também causam a deterioração do produto, que tem a sua cor, odor e textura modificados. “Quando os compradores identificam algumas embalagens nessa condição, eles rejeitam o lote todo, por medida de segurança”, reforça a autora da tese. Ainda segundo ela, são necessários de 40 a 60 dias para que os microorganismos se desenvolvam e produzam o estufamento da embalagem. O prazo de validade das carnes embaladas a vácuo mantidas sob refrigeração é de 120 dias. Além do Brasil, assinala Vanessa, o Clostridium estertheticum e o Clostridium gasigenes têm sido encontrados em produtos cárneos de outros países produtores, como a Nova Zelândia e Estados Unidos.

FONTE: Jornal Unicamp - ANO XXIII – Nº 437

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Pesquisa mensura concentrações de flavonóis

A couve refogada apresentou as maiores concentrações de flavonóis na pesquisa realizada nos laboratórios da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) com quatro tipos de hortaliças. São elas couve, brócolis, vagem e chicória. Os flavonóis pertencem a uma classe dos flavonóides – compostos produzidos pelas plantas e que possuem efeitos benéficos à saúde, entre os quais previnem doenças degenerativas como as cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Estes compostos apresentam atividade antioxidante e atuam sequestrando radicais livres e quelando metais que favorecem a formação desses radicais. No entanto, informações sobre os teores de flavonóides em alimentos ainda são limitados e, por isso, a engenheira de alimentos Aline Yashima Bombonati analisou as hortaliças e mais três frutas da Amazônia – buriti, tucumã e pupunha – com o objetivo de incrementar o banco de dados sobre o assunto.

A novidade do trabalho de Aline foi, justamente, a análise de amostras de hortaliças cozidas servidas em três restaurantes de Campinas. “A ideia foi conhecer o teor de flavonóis em alimentos que são consumidos diariamente por um grande número de pessoas e que passam por um processamento com altas temperaturas”, argumenta. Para a pesquisa, ela utilizou três lotes de cada hortaliça e a couve refogada foi a que mais se destacou no estudo, por apresentar uma média de 454 a 670 microgramas por grama de um flavonol denominado quercetina e 169 a 207 microgramas por grama de outro importante flavonol, o kaempferol.

Um resultado que surpreendeu a engenheira foi o relativo aos brócolis comuns crus por conterem teores elevados de flavonóis, comparados ao da variedade ninja, usualmente servido em restaurantes. O comum apresentou 193 microgramas por grama de quercetina e 158 de kaempferol, enquanto que no ninja foram encontrados 32 microgramas por grama de quercetina e 23 de kaempferol.

Segundo Aline Bombonati, de uma maneira geral, houve grande variação nas quantidades de flavonóis em lotes da mesma hortaliça de um mesmo restaurante e entre os diferentes restaurantes, o que poderia indicar uma variação natural da planta ou efeito do processo de preparo do alimento. “Na indústria, hortaliças como o brócolis passam pelo processamento de corte, branqueamento e congelamento que gera perdas de propriedades e, portanto, mais estudos devem ser feitos para uma melhor avaliação das perdas”, declara.

A  couve refogada apresentou as maiores concentrações de flavonóis (Fotos: Antoninho Perri/Divulgaçao)Quanto às frutas da Amazônia, Aline investigou o buriti, tucumã e pupunha, e polpa congelada de pitanga proveniente do Nordeste. Apenas no buriti foram encontrados flavonóis ainda que em pequenas concentrações. A polpa congelada de pitanga apresentou teores menores de flavonóis que os de polpas provenientes do estado de São Paulo, analisadas anteriormente no mesmo laboratório. A ideia que se tinha era que essas frutas, por serem fontes de carotenóides, outro composto extremamente benéfico à saúde, também pudessem apresentar quantidades significativas de flavonóis. “O que se percebeu é que a planta produz predominantemente ou uma ou outra substância. O buriti, por exemplo, é considerada a maior fonte de betacaroteno, mas pobre em flavonóis. Estes compostos são sintetizados a partir de um mesmo precursor e o que se verificou é que dificilmente a planta produz os dois compostos em altas quantidades”, afirma.

FONTE: Jornal UNICAMP - ANO XXIII – Nº 437

domingo, 23 de agosto de 2009

Pesquisa da FCM abre perspectivas para o tratamento da obesidade e do diabetes

Pesquisadores identificam proteína envolvida na termogênese corporal

EDIMILSON MONTALTI

O professor Lício Augusto Velloso, orientador da pesquisa, e Talita Romanatto, autora da tese: identificação de proteína pode gerar medicamento (Foto: Foto: Antoninho Perri)Pesquisadores do Laboratório de Sinalização Celular da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp descobriram uma nova função para uma proteína existente na membrana celular que participa do desenvolvimento da obesidade. A pesquisa é resultado da tese de doutorado “Animais knockout para o receptor 1 do TNF-α estão protegidos de obesidade induzida por dieta”, da bióloga Talita Romanatto. A orientação do trabalho é do pesquisador e professor Lício Augusto Velloso, do Departamento de Clínica Médica da FCM.

O estudo foi apresentado no mês de abril durante o XXI Congresso Europeu de Endocrinologia, ocorrido em Istambul, na Turquia. A pesquisa recebeu o prêmio de melhor trabalho na área básica. Após a premiação, o trabalho foi encaminhado para publicação numa importante revista internacional, de acordo com os pesquisadores. O resultado da pesquisa abre uma nova frente de estudos para o desenvolvimento de medicamentos destinados ao controle da obesidade e do diabetes.

Segundo os pesquisadores, o organismo produz uma série de reações inflamatórias para a defesa contra infecções. Quando cortamos o dedo, por exemplo, há um recrutamento de anticorpos e de outras proteínas que formam uma barreira para a defesa do organismo. Uma das principais proteínas envolvidas no início dessa reação, chamada de resposta imune inata, é a citocina TNF-α, cujas principais funções ocorrem por meio da sua ligação a receptores específicos.

O TNF-α possui uma família bastante complexa de receptores. Ela é formada por 29 membros que estão presentes na membrana das células. Cada receptor tem uma função diferente, sendo que o mais importante deles e o mais estudado atualmente é o TNRF1, que está presente em todas as células do organismo.

O interesse em estudar esse receptor se deve ao fato de existir uma conexão entre os níveis alterados da citocina TNF-α em casos de obesidade e diabetes. Na opinião de Lício Velloso, a descoberta do envolvimento do TNF-α no desenvolvimento dessas doenças, feito por um grupo de Boston no início dos anos 1990, é uma das mais importantes na área da medicina.

“Remédio sempre atua num determinado alvo que, geralmente, são proteínas. Quando você identifica uma proteína como um alvo potencial, você abre uma porta nova para o desenvolvimento de um novo medicamento. O trabalho da Talita identificou uma nova função para o receptor de uma proteína que, pelos estudos desenvolvidos até agora, parece servir de alvo para o tratamento da obesidade”, explicou o orientador da tese.

Relevância clínica
O processo de produção científica dentro de um laboratório é imprevisível. Uma pesquisa, por vezes, é rápida – em três anos o pesquisador chega a um resultado. Às vezes, pode levar até 10 anos. Tudo depende da complexidade que o pesquisador encontra durante o processo. Na opinião de Lício Velloso, a pesquisa desenvolvida por Talita entra na última categoria, pois ela precisou resolver questões inerentes ao processo de investigação biológica.

O primeiro passo para o desenvolvimento da pesquisa foi a instalação de uma colônia de camundongos modificados geneticamente para o receptor 1 de TNF-α, chamados de camundongos knockout. Talita adquiriu as matrizes na USP de Ribeirão Preto que foram importadas do laboratório Jackson, dos Estados Unidos. O animal produz a proteína TNFR1 de uma maneira modificada, sendo que ela não tem função fisiológica para o organismo. Para ter certeza da pureza da linhagem, a pesquisadora fez a genotipagem dos três primeiros cruzamentos das cobaias. Só depois ela começou a pesquisa.

Depois que as cobaias atingiram a fase adulta, o animal knockout e outro normal, chamado de controle, receberam uma dieta rica em lipídios durante oito semanas. Após esse período, a pesquisadora constatou que o animal controle engordou, enquanto que o animal knockout não teve alteração em seu peso, mesmo comendo mais que o animal controle. Foi nesse ponto do trabalho que Talita começou a investigar o por quê do animal knockout não engordar.

Com base em vários experimentos, a pesquisadora constatou que a ausência do receptor TNFR1 está envolvida num mecanismo de proteção contra a obesidade. Os animais que não possuem o receptor funcional apresentaram aumento de gasto energético involuntário, processo conhecido como termogênese. A pesquisadora observou que o consumo de oxigênio muscular e total do animal modificado geneticamente era maior que do animal controle.

“Ao medir o consumo de oxigênio e a produção CO2 do animal knockout, verificamos que ele gastava mais energia que o animal controle sem aumentar a temperatura corporal. Mesmo consumindo uma dieta rica em gorduras, ele não engordava. O gasto energético era tão alto que ele nem chegava a acumular gordura”, explicou Talita.

De acordo com os pesquisadores, a relevância clínica do estudo está no fato de que a maioria dos medicamentos existentes no mercado foca nas dietas, na ingestão de alimentos, funcionando como moderadores ou inibidores do apetite. A descoberta feita no Laboratório de Sinalização Celular mostra a possibilidade de uma nova forma terapêutica baseada no gasto energético corporal, por meio da termogênese.

“Nós não podemos inibir totalmente a citocina TNF-α porque ela participa da resposta inflamatória como defesa do organismo, mas podemos tentar inibir parcialmente o receptor, procurando alvos terapêuticos que controlem não a ingestão alimentar, mas sim que regulem o gasto de gordura corporal”, comentou Talita.

Para Lício Velloso, a ativação do gasto energético nos animais knockout para o receptor 1 de TNF-α é um achado importante. O ponto a ser considerado numa nova fase da pesquisa é a produção de compostos químicos capazes de interagir com o receptor e regular a função da proteína. Entretanto, comentou o orientador da tese, a função dos pesquisadores do Laboratório de Sinalização Celular não é fazer fármacos, mas sim descobrir alvos para isso.

Hoje, de acordo com Velloso, os pesquisadores têm uma grande quantidade de informação que deixa claro que o TNFR1 é um receptor muito importante na origem da obesidade. “A Talita é bióloga, eu sou médico e temos na Unicamp a Faculdade de Engenharia Química e o Instituto de Química. Esperamos, num determinado momento, interagir com eles para ver se há interesse em desenvolver um produto na linha termogênica que ajude no controle da obesidade e do diabetes”, disse o médico-pesquisador.

Diabetes
De acordo com os pesquisadores, há uma conexão íntima entre diabetes e obesidade. Dados internacionais demonstram que 80% das pessoas que têm diabetes no mundo, ficaram obesas antes de desenvolver a doença. Diabetes e obesidade são doenças que têm componentes genéticos e ambientais. “Ficar obeso é o primeiro passo para uma pessoa ficar diabética. E as pessoas obesas têm grande propensão a ter resistência à insulina”, revelou o Velloso.

Já é de conhecimento dos pesquisadores que a concentração da citocina TNF-α aumenta, também, a resistência à insulina em pacientes diabéticos. O TNF-α tem um efeito direto nos mecanismos de ação da insulina, o principal hormônio que regula a captação de glicose pelo organismo. Quando se tem muita proteína TNF-α no organismo, ela prejudica a ação da insulina e a glicose plasmática aumenta.

“O TNF-α faz parte do início do desencadeamento tanto da obesidade quanto do diabetes. Se tivermos drogas que controlem a sua função por meio do receptor TNFR1, nós poderemos ter uma repercussão boa para o tratamento dessas doenças”, disse Velloso.

FONTE: Jornal UNICAMP - ANO XXIII – Nº 437

Memória saborosa

Aquela sobremesa deliciosa do jantar de ontem à noite continua provocando forte lembrança? Um prato especialmente saboroso, apesar de ter sido consumido há alguns dias, ainda provoca água na boca?

Não há motivo de culpa. Tais eventos não são exemplos de gulodice, mas da formação natural da memória, segundo um estudo que foi publicado na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

O estudo, feito por cientistas dos Estados Unidos e da Itália, indica que a ingestão de alimentos ricos em gordura estimula a formação de memórias de longo prazo, aquela que não desaparece rapidamente.

O estudo se soma a trabalho recente do mesmo grupo que havia apontado a relação entre gordura ingerida e controle do apetite e tem implicação importante no desenvolvimento de tratamentos para obesidade e outros distúrbios alimentares.

Os pesquisadores haviam identificado que os ácidos oleicos, obtidos a partir da hidrólise da gordura animal e de certos óleos vegetais, são transformados no intestino delgado em uma molécula chamada de oleoletanolamina (OEA).

A OEA envia mensagens de saciedade ao cérebro e, em níveis elevados, pode reduzir o apetite e promover a perda de peso e a diminuição de níveis de triglicérides e de colesterol.

Liderados por Daniele Piomelli, do Instituto Italiano de Tecnologia e da Universidade da Califórnia em Irvine (UCI), e por James McGaugh, da UCI, um dos principais especialistas em memória no mundo, os cientistas descobriram que o OEA também causa a consolidação da memória, processo por meio do qual memórias superficiais, de curto prazo, são transformadas em memórias de logo prazo, que podem ser “armazenadas”.

A consolidação é feita por meio da ativação de sinais de estímulo na amígdala, a parte do cérebro envolvida na consolidação de memórias e eventos emocionais.

Em testes com roedores, os pesquisadores observaram que a administração de oleoletanolamina levou à melhoria na retenção da memória. Quando receptores celulares ativados pelo OEA foram bloqueados, os efeitos da retenção da memória diminuíram.

“O composto oleoletanolamina é parte da ‘cola molecular’ que faz com que as memórias grudem. Por ajudar a lembrar onde e quando foi feita uma refeição gordurosa, a atividade de estímulo da memória do OEA parece ter sido uma importante ferramente evolucionária para o homem e outros mamíferos”, disse Piomelli.

Gorduras são importante para a saúde geral, ajudando na absorção de vitaminas e na proteção de órgãos vitais. Apesar de a dieta do homem atualmente ser rica em gorduras, o mesmo não ocorreu com os primeiros humanos. Na natureza, alimentos ricos em gordura são raros.

“Lembrar da localização e do contexto de uma refeição cheia de gordura foi, provavelmente, um importante mecanismo de sobrevivência para os primeiros humanos. Faz sentido que os mamíferos tenham essa capacidade”, disse o cientista italiano.

Apesar disso, segundo Piomelli, tamanha ajuda para a memória talvez não seja tão benéfica atualmente. Enquanto o oleoletanolamina contribui para a sensação de saciedade após uma refeição, ele pode também estimular a vontade de ingerir novamente alimentos ricos em gordura, que, quando consumidos em excesso, podem causar obesidade.

Drogas que simulam os efeitos do oleoletanolamina já estão sendo usadas em estudos clínicos para controle da triglicéride. O grupo do estudo agora divulgado pretende investigar se tais compostos podem melhorar a consolidação da memória em pessoas com deficiência nesse processo.

O artigo Fat-induced satiety factor oleoylethanolamide enhances memory consolidation, de Daniele Piomelli e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em www.pnas.org.

FONTE: Agência FAPESP

sábado, 22 de agosto de 2009

Anvisa discute proposta sobre propaganda de alimentos

As mudanças econômicas, sociais e demográficas das últimas décadas alteraram o padrão de alimentação da nossa população, com conseqüente repercussão no estado nutricional. A obesidade corresponde ao problema nutricional mais comum na infância nos países desenvolvidos e, no Brasil, evidencia-se uma tendência no aumento de excesso de peso nesta camada populacional (Nota do Ministério da Saúde).

As propagandas de alimentos com quantidades elevadas de açúcar, gordura saturada, gordura trans e sódio terão que obedecer a regras específicas. A proposta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi discutida nesta quinta-feira (20), em uma audiência pública.

A audiência é a etapa final de um processo de participação social iniciado em 2006, com a Consulta Pública n° 71. Representantes do setor produtivo, da sociedade civil e das empresas de comunicação acertam os últimos detalhes do texto da resolução, que será publicada ainda em 2009.


Pela proposta, as propagandas desses alimentos deverão veicular alertas sobre os perigos do consumo excessivo. Produtos com quantidade elevada de açúcar, por exemplo, deverão trazer advertências para o risco de desenvolver obesidade e cárie dentária. Já aqueles com muita gordura saturada, sobre os riscos de desenvolver diabetes e doenças do coração.


As peças publicitárias não poderão ainda desencorajar o consumo de alimentos considerados saudáveis, como frutas e vegetais, sugerir que o produto é benéfico para a saúde ou encorajar crianças a persuadir seus pais e outros a consumir esses alimentos. As regras também são válidas para as bebidas com baixo teor nutricional, como refrigerantes e refrescos artificiais.


“O Ministério da Saúde gasta, hoje, 70% do orçamento no tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, doenças que são também oriundas da obesidade”, afirma a gerente de monitoramento e fiscalização da propaganda da Anvisa, Maria José Delgado. “O objetivo principal da regulamentação é proteger o público infantil, que é a parte mais vulnerável à publicidade e, com isso, evitar problemas futuros relacionados à saúde desses indivíduos”, ressalta.


A proposta traz um artigo voltado especialmente à propaganda dirigida ao público infantil. A sugestão é que a publicidade dos alimentos que de trata a norma fique restrita ao horário compreendido entre 21 horas e 6 horas, fora do período em que o público mais jovem tem acesso à programação.


Além disso, ficará proibido utilizar figuras, desenhos e personagens que sejam cativos ou admirados pelas crianças. “O público infantil não consegue distinguir programação normal de publicidade. Por isso, as campanhas publicitárias costumam utilizar os mesmos personagens dos desenhos”, completa Maria José Delgado.

Local realizado: Auditório da Anvisa – SIA Trecho 05, área especial 57 – Brasília / DF
Dia: 20/08/2009
Horário: 8h às 18hs

Abaixo a íntegra da Anvisa no site www.anvisa.gov.br

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, no cumprimento de suas atribuições, publicou a Consulta Pública nº. 71, de 10 de novembro de 2006, com o intuito de normatizar a oferta, propaganda, publicidade, informação e outras práticas correlatas cujo objeto seja a divulgação e a promoção de alimentos considerados com quantidades elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura trans, de sódio, e de bebidas com
baixo teor nutricional.


Considerando a relevância do tema, a Diretoria Colegiada da ANVISA realizará uma Audiência Pública sobre a proposta em questão, no dia 20 de agosto de 2009, das 8h00 às 18h00, em Brasília – DF, SIA, Trecho 5, Área Especial 57, Bloco , Térreo - Auditório do Complexo da ANVISA. Este evento tem por objetivo criar um espaço para que todas as pessoas afetadas pela atuação regulatória tenham oportunidade de se manifestar antes do desfecho do processo de tomada de decisão.


Em conformidade com os valores de transparência e diálogo com a sociedade, representada pelos diversos entes interessados na construção do acesso à saúde, de ordem do Diretor Presidente da ANVISA, Dirceu Raposo de Mello, convidamos para participar do evento em questão. A proposta Resolução está disponível, na íntegra, no endereço eletrônico www.anvisa.gov.br, bem como as sugestões encaminhadas por escrito para consulta pública e demais documentos relacionados.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Pesquisadores do interior de SP criam a carne em pó

A novidade promete reforçar a dieta de quem têm dificuldade para mastigar.

Leonardo Bianchi – Lins, SP

O Jornal Hoje fez testes em hospitais e os pacientes não sentiram diferença entre a carne comum e esta que acaba de sair do laboratório da Universidade de São Paulo e Universidade Estadual Paulista.

Não parece, mas isso é carne. Carne em pó! “Qualquer paciente que precise de uma dieta, onde ele só possa consumir líquidos, a mistura protéica em pó vai ser útil”, comenta Silvia Papini Berto, nutricionista.

Mas para comprovar, decidimos fazer um teste. Primeiro, vamos preparar uma sopa de legumes com carne em pedaços. Os ingredientes são triturados no liquidificador e a sopa é peneirada. Dá para perceber que mais da metade do alimento ficou na peneira.

Agora, uma sopa de legumes como a primeira, mas em vez de carne em pedaços, utilizamos a carne em pó. As duas sopas foram servidas a pacientes que passaram por cirurgias na boca.

“É o mesmo sabor e é mais consistente”, diz um paciente.

A carne em pó ainda é produzida em pequena escala para atender as pesquisadoras. O processo é complexo, mas basicamente a carne é cozida, a água extraída, e depois moída até virar pó.

Desde fevereiro deste ano pesquisadoras da UNESP de Botucatu e da USP de Bauru, em parceria com um frigorífico do interior do estado, têm utilizado o produto com pacientes que se recuperam de cirurgias.

As nutricionistas acreditam que o produto pode ajudar no combate e na recuperação de muitas doenças.

“Alzheimer, pacientes com doença de parkinson, pacientes com cirurgias gastro-intestinais, com acidente vascular cerebral, idosos que têm dificuldade de mastigação, então a mistura protéica em pó pode ser útil também nestes casos”, explica Silvia Papini Berto, nutricionista

A carne em pó deve estar disponível para o consumidor no ano que vem.

Vídeo da Reportagem: Vídeos Rio Alimentos

FONTE: GLOBO (G1)

Cerveja pode fortalecer ossos de mulheres, diz estudo

Segundo pesquisadores, efeito seria de hormônios presentes na bebida, não do álcool.

Da BBC

Mulheres que bebem quantidades moderadas de cerveja podem fortalecer seus ossos, segundo um estudo de pesquisadores espanhóis.

Mulheres que bebem quantidades moderadas de cerveja podem fortalecer seus ossos, segundo um estudo de pesquisadores espanhóis.

O estudo com cerca de 1.700 mulheres, publicado na última edição da revista científica Nutrition, verificou que a densidade dos ossos era melhor em mulheres que bebiam regularmente do que em mulheres que não bebiam.

Mas a equipe de pesquisadores adverte que o efeito pode ser mais ligado a hormônios de plantas presentes na cerveja do que ao álcool.

Especialistas também sugeriram cautela em relação è descoberta. Eles advertem que o consumo diário de mais de duas unidades de álcool prejudica a saúde dos ossos.

A osteoporose, condição na qual a densidade dos ossos fica menor, deixando a pessoa mais suscetível a fraturas, é um problema comum em mulheres após a menopausa.

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Leia a íntegra em:
Reportagem: GLOBO (G1)

Pipoca pode ajudar a evitar câncer, dizem cientistas

Pesquisadores concluem que cereais são ricos em antioxidantes, e não apenas fibras.

Da BBC

A pipoca e outros cereais matinais contém “quantidades surpreendentes” de substâncias antioxidantes conhecidas como polifenóis – que têm potencial de diminuir o risco de câncer e doenças cardíacas – normalmente encontradas em frutas e legumes.

A pipoca e outros cereais matinais contém "quantidades surpreendentes" de substâncias antioxidantes conhecidas como polifenóis - que têm potencial de diminuir o risco de câncer e doenças cardíacas - normalmente encontradas em frutas e legumes.

O estudo foi apresentado por cientistas da Universidade de Scranton, na Pensilvânia, durante a 238ª Reunião da American Chemical Society (ACS), em Washington.

Os polifenóis são a principal razão pela qual frutas e legumes - e alimentos como chocolate, vinho, café e chá - se tornaram conhecidos por seu potencial para diminuir o risco de doenças.

Até agora, acreditava-se que esses cereais eram alimentos saudáveis e ajudavam a combater o câncer e doenças cardíacas por causa de seu alto teor de fibra, mas segundo os autores do estudo, ninguém havia comprovado a alta presença de polifenóis.

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Leia a íntegra em:

Reportagem: GLOBO (G1)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Linhaça combate o efeito sanfona

Fibra promove a saciedade e ajuda a reduzir a ingestão de alimentos. Repórter testou a dieta e perdeu 3,2 quilos em um mês.

GUACIRA MERLIN Rio de Janeiro e São Paulo

"Ultimamente só estou usando camisa de bolinha", conta o músico João Baumman, apontando para a própria barriga.

"Eu perdi todas as minhas roupas, porque engordei bastante este ano. Eu alargo e depois tenho que diminuir de novo", conta a aposentada Maria Lourdes Rosignoli.

Você já ouviu essa conversa antes? Não é só o pessoal da música que está habituado a pequenos consertos. A obesidade já é um problema de saúde pública.

"Nós comemos antes, durante e depois do show", revela a musicista Regina Sbrighi Pimentel.

Comida é sinônimo de festa: macarronada, doces, churrasco com os amigos. Nesse ritmo, nosso corpo muda de forma. É o efeito sanfona. Há quem pense que essa é uma preocupação só das mulheres. Errado. Os homens também sofrem. Afinal, a maioria dos brasileiros está com excesso de peso. Não adianta esconder.

"Eu engordava e emagrecia. Engordava e emagrecia", lembra a dona de casa Ivani Benedetti de Oliveira.

Por detrás da sanfona, sempre existe uma história de vai e vem na balança.

"O efeito sanfona é observado quando a pessoa realiza dietas da moda. São dietas muito restritivas, que promovem uma perda de peso rápida. Mas a manutenção desse peso adquirido não ocorre", diz a professora de nutrição Glorimar Rosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A comerciante Áurea Barcellos conta os tipos de dieta que já fez: "Eu passava o dia todo tomando abacaxi. Já fiz a dieta dos pontos e a dieta da sopa. Também tem outra dieta da sopa: deu sopa, come tudo".

Contra os males do excesso de peso, mulheres unidas. De um lado, aquelas que estão cansadas do engorda e emagrece. Do outro, as nutricionistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Juntas, estão testando os efeitos da linhaça no combate à obesidade.

"Cada participante da pesquisa recebe um plano alimentar individualizado, que ela deve seguir durante três meses. Fazemos consultas quinzenais, quando elas recebem os suplementos alimentares", explica Glorimar Rosa.

É neste momento que entra a linhaça. São três tipos. "A linhaça dourada apresenta uma maior quantidade de ômega-3 e ômega-6 em comparação com a linhaça marrom integral e a linhaça marrom desengordurada. Ela tem mais gorduras poliinsaturadas, que são benéficas, protetoras do nosso coração", esclarece Glorimar Rosa.

Parte desse grupo recebe óleo de peixe misturado com doce de morango sem açúcar, que também é rico em ômega-3 e 6.

"São três colheres medidas todos os dias, no café da manhã. Vocês podem passar na torrada ou no biscoito", orienta a professora de nutrição Sofia Kimi Uehara, da UFRJ.

"Com geléia de morango enriquecida com óleo de peixe, vemos exclusivamente o efeito do óleo de peixe nos fatores de risco cardiovasculares", diz Glorimar Rosa.

Todos os meses, elas repetem vários exames: colesterol, quantidade de açúcar no sangue, peso, medidas. Em três meses, a costureira Elenice Amorim passou do manequim 48 para o 42 em três meses.

Quem diria que o primeiro efeito para a ex-passista Eliane dos Santos Silva, de 43 anos, seria um novo ritmo de vida? "Eu perdi dez quilos em três meses", conta.

"Aos 35 anos, eu estava bem mais velha do que com 40. Minha autoestima era baixíssima. Quando o filho começa chamar a mãe de gorda e você percebe que o olhar do marido não é o mesmo, você não consegue se ver no espelho", avalia a dona de casa Andréa Rodrigues de Menezes.

"Para mim, a linhaça foi o início de uma vida saudável", diz a enfermeira Fatima Camello.

Quem nunca começou uma dieta e desistiu logo depois? No corre-corre de todos os dias falta tempo para se preocupar com a alimentação e sobram tentações. As mulheres com quem nós conversamos já venceram esse desafio. Chegou a minha vez. Durante um mês, eu experimentei essa dieta. Primeiro, os exames. Uma bateria deles. Foram cinco coletas de sangue. Em seguida, comecei a dieta. E comecei comendo. A ideia foi usar a farinha de linhaça para espantar a fome.

"Ela é um dos alimentos mais ricos em fibras. Essa fibra promove a saciedade no café da manhã e ajuda a paciente que quer emagrecer a reduzir sua ingestão alimentar ao longo do dia", explica a nutricionista Wânia Lúcia Araújo Monteiro, da UFRJ.

"Você pode misturar no iogurte, no leite ou em um suco de fruta", orienta a nutricionista Grazielle Huguenin.

Aí que está a grande dificuldade e o meu maior desafio: como seguir essa dieta em um ritmo de trabalho intenso, como é o ritmo de muita gente no dia a dia?

"Você poderia fazer um sanduíche com pão integral, substituindo o arroz, uma cenoura ralada, alface e peito de frango grelhado", diz Grazielle Huguenin.

Foi assim eu adotei a lancheira. Mas não é tão fácil. Recusar delícias como pizza é uma desfeita! No quinto dia da minha dieta, estávamos em um hotel em São Paulo. Eu não podia nem pensar em comer muitas coisas do café da manhã. Optei por um copo de leite desnatado, um pãozinho e queijo. Escolhi uma fatia bem gordinha para ficar feliz. Aonde eu ia levava um copinho com a medida de farinha de linhaça.

Mas e quem resiste a um pão quentinho? Do total de brasileiros, 66% confessam que ir à padaria é o melhor programa para as horas de lazer. Foi o que revelou uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica nas cinco regiões do país.

"Leva um amigo, toma um cafezinho, relaxa, conversa", diz o panificador Wagner Ferreira.

E para quem faz desse lazer um ganha-pão, é ainda mais difícil manter o peso.

"Eu tenho uns 106 quilos. Não resisto. Faço umas caminhadinhas: dou uma volta na padaria", brinca o gerente de padaria José Mazzeo.

Até dona Ivani, da orquestra de sanfonas, já teve uma queda irresistível pela padaria. Adivinhem onde foi o primeiro encontro com o comerciante Manuel de Oliveira?

"Ele trabalhava na padaria e sabia que eu gostava de sonho. Cada vez que meu pai ia lá comprar um doce, meu sonho ia em cima", lembra dona Ivani.

Recuse o primeiro prato quem nunca tentou agradar com comida. "Comida tem uma relação emocional muito importante. Aprendemos de pequenininho que é feio deixar comida no prato. Aprendemos que se comemora comendo. Aprendemos que quando estamos tristes comemos alguma coisa. Existem famílias que começam o domingo à mesa e fica até sete horas no mesmo ambiente", diz o médico-cirurgião Luiz Vicente Berti, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O amor entre dona Ivani e seu Manuel é o mesmo dos tempos da padaria. "Eu estava bem magrinha, com 54 quilos. Ele me chamava de bacalhau, porque eu era muito magra", conta dona Ivani.

"Eu não lembro mais", disfarça seu Manuel.

Mas quem vê esse casal feliz nem imagina que, além da dificuldade em controlar o próprio peso, ainda é preciso enfrentar um grave transtorno alimentar dentro de casa. Com a filha, a veterinária Ana Paula de Oliveira, a questão do peso chegou ao extremo.

"Eu olhava para a comida e virava a cara e falava que não queria. Quanto mais magra eu ficava mais eu me via gorda. Eu me via gorda mesmo. Obesa mórbida. Quando descobriram que eu tinha anorexia, eu fui para o tratamento com 38 quilos", lembra Ana Paula, que está fazendo pós-graduação. "Eu estava precisando de alguma coisa para me distrair, com a qual eu me mantivesse ocupada. Então, dois gatinhos vieram e agora estou cuidando deles", conta.

Estudando e cuidando dos gatinhos, ela se fortalece dia após dia.

"Eu tenho a sorte de ter uma mãe que só faltou se algemar comigo para me vigiar", diz Ana Paula.

"Nós duas vamos ficar sempre juntas", diz dona Ivani.

Durante a reportagem, nós conhecemos muitas histórias de superação. Depois de um mês fazendo a dieta da linhaça, voltamos ao Laboratório de Nutrição para saber se realmente mudou alguma coisa na minha saúde. Os primeiros resultados mostraram taxas normais de glicose, triglicerídeos e colesterol. Mas o teste mais temido foi mesmo o da balança. Eu perdi 3,2 quilos em um mês.

"Graças à dieta e à linhaça. Sem sombra de dúvida, a redução na ingestão de calorias contribuiu de forma importante para a redução de medidas e no peso corporal. Mas a linhaça contribuiu de forma bastante importante no controle da compulsão alimentar, reduzindo a sensação de fome", explica Glorimar Rosa.

A vendedora autônoma Dionar Rodrigues da Silva começou a dieta junto comigo e gostou dos resultados. "Eu tinha cem centímetros de cintura e hoje estou com 89. Não é igual aos regimes malucos que eu comecei a fazer e davam resultado, mas era momentâneo. Em pouco tempo eu fiz a dieta e agora estou vendo o resultado. É um reloginho: todo dia tenho que tomar linhaça. É ótimo", diz.
É um adeus ao efeito sanfona.

FONTE: GLOBO (G1)

domingo, 16 de agosto de 2009

Comida viva emagrece e dá energia

Sementes em processo de germinação e brotos dão origem a um cardápio nutritivo. Projeto em São Paulo ajuda grupo de obesos a mudar hábitos alimentares.

GUACIRA MERLIN Rio de Janeiro e São Paulo

"Nós todos somos um grupo e temos o mesmo objetivo: alcançar o emagrecimento com saúde. Assim, um ajuda o outro", conta a dona de casa Paula Verônica de Souza e Silva.

Um ritmo diferente transformou a vida e o cardápio de várias pessoas. Todos entraram na dança no Grupo de Estudos e Tratamento do Obeso (Gesto), em São Paulo, e no projeto Terrapia, projeto da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

"Quando eu vi, foi como se eu tivesse um choque. Porque é uma coisa muito diferente para mim. Foi uma manhã que me estremeceu toda", lembra a dona de casa Maria Ventura da Silva, que foi sem saber ao certo o que encontraria.

"O Terrapia é um projeto social da Escola Nacional de Saúde Pública. É uma espécie de modelo de centro de saúde ao ar livre, onde as pessoas se juntam para conversar sobre saúde e cuidados ambientais. Temos como modo de trabalho a apresentação da culinária viva", explica a médica da Fiocruz Maria Luiza Branco.

Mas, afinal de contas, o que é essa "comida viva"?

"Eu pensei: 'Não vou comer'. Na preparação do almoço a comida estava tão gostosa que eu comecei a provar. Fiquei tão encantada com tudo que voltei", conta dona Maria Ventura.

Maria Luíza é idealizadora do Terrapia. "O que temos de tão especial são as sementes germinadas. Porque alimento vivo significa sementes em processo de germinação e brotos. Depois, a culinária acontece da brincadeira com esses ingredientes", esclarece.

Dona Maria Ventura já é uma das colaboradoras do projeto. Está 12 quilos mais magra e com as taxas de colesterol, triglicerídeos e glicose bem diferentes do que os exames indicavam anos atrás. "Os triglicerídeos não baixavam nunca. A pressão e o colesterol estavam sempre altos", relata.

Agora, ela não se descuida mais. "Na última consulta, as taxas tinham baixado. Ela disse: 'Maria Ventura, continue com essa alimentação, porque suas taxas baixaram", conta a dona de casa.

Dia de festa. Uma turma encerrou o ciclo de seminários sobre comida viva. A prova final foi de encher os olhos. A professora Eloisa Helena Reis de Souza já ia aos seminários quando descobriu que estava com a taxa de glicose altíssima. "A desculpa é sempre falta de tempo. Passei para a prática quando eu vi a coisa ficar feia", diz. Assim, tomou uma decisão: "Comecei a arranjar tempo. Acordava mais cedo, fazia o planejamento das sementes. Cada semente tem seu tempinho de germinação". Ela trocou a alimentação que tinha pela comida viva. De manhã, prepara o almoço. Prato do dia: um feijão-tropeiro bem diferente, com feijão germinado. E os exames revelaram: a glicose baixou de 328 para 146 em 15 dias. "Desde que eu estou no Terrapia e comecei a alimentação viva não tomei nenhum remédio", comemora. E tem mais: "Eu emagreci oito quilos em 30 dias. Não me senti fraca, nem desanimada. Muito pelo contrário. A comida natural dá mais energia, você não passa mal".

"Os alimentos são baseados em proteínas, carboidratos, gorduras. E esse conceito nutricional vem sendo questionado por algumas pessoas, como é o caso da turma do alimento vivo. A diferença é olhar sob a ótica da vitalidade dos alimentos. Um alimento que carrega vitalidade satisfaz com mais facilidade", diz Maria Luiza Branco.

Um cardápio diferente. O pessoal de São Paulo também tem uma nova receita de vida. Eles cantam, dançam e aprendem a se alimentar com saúde. É um prazer. Em dia de feira, o grupo animado aprende a emagrecer longe dos consultórios.

"A caminhada já é um exercício. Eles encontram na feira os alimentos que vão melhorar a saúde deles. Vão em busca do objetivo deles, que é emagrecer", diz a nutricionista Maria Sueli Hilário.

Sueli é a nutricionista do Gesto, um projeto da Secretaria de Saúde do Estado. Na feira, a aula é prática. "Eles colocam em prática o que nós conversamos", acrescenta.

"Temos que olhar para a barraca de pastel e seguir. Não pode", alerta a tecelã aposentada Zilda Nascimento.

A mudança no cardápio começa bem longe da cozinha, na hora de escolher os alimentos. Uma lista de compras ajuda a não cair em tentação, garantindo na sacola só o que faz bem à saúde e não pesa na consciência. Juntos, eles aprendem a comprar os melhores ingredientes, com os melhores preços.

"Mexerica não engorda", ressalta Paula Verônica.

Fim de feira. Na volta, começa o mutirão na cozinha e sala de almoço. Hora de aprender a usar tudo em um lanche de baixa caloria: peixe, saladas e pão integral. Que delícia! E que transformação!

"Não é mais sofrimento. Agora é alegria", comemora Zilda Nascimento.

"Eu sofro de verdade, mas é um sofrimento bom. Porque sem sofrimento não vamos a lugar nenhum. Tudo com sofrimento é mais gostoso. E esses quilos que eu perdi foram com sofrimento. Eu mudei hábitos alimentares de 40 anos. Eu não comia verduras, nem frutas. Temos que persistir para alcançar um objetivo. Senão, nunca vamos conseguir. A questão é mudar hábitos alimentares, não tem jeito", revela Paula Verônica.

"O que procuramos, na verdade, desde o tempo da caverna, é carne gorda e fruta doce", observa o biomédico Eduardo Fonseca Pereira.

"Eu tinha preconceito de mim. Acho que as pessoas também tinham. As pessoas têm preconceito de gente gorda. Eu era muito reprimida. Quando me xingavam de gorda, eu chegava em casa chorando. De fato, eu era gorda. Ainda sou gorda. Mas agora não aguento mais desaforo. Agora, eu xingo", diz a artesã Lúcia Shirley Arinciotta.

"Xingar emagrece, porque não engolimos sapo", comenta Paula Verônica.

"Ser um obeso na sociedade tem um peso. Nosso trabalho é que essas pessoas percam algum peso. Mas é muito importante que elas readquiram cidadania e sejam pessoas completas", diz o psiquiatra Ezequiel Gordon.

Agora, se oferecerem alguma guloseima para essa turma... "Parece que a Sueli vem dizer: 'Pode comer de tudo, mas não pode comer tudo'", conta Paula Verônica.

De cantoria em cantoria, todas as pessoas dos dois projetos estão mais saudáveis, mais magras e felizes.

Vídeo da Reportagem: Como emagrecer longe de um consultório médico - Vídeos Rio Alimentos

FONTE: GLOBO (G1)

Chocolate amargo protege o coração após infartos, indica estudo sueco


RIO - Comer uma pequena barra de chocolate amargo duas vezes por semana reduz até 30% o risco de complicações cardíacas em pessoas que já sofreram um infarto. O dado é resultado de um estudo do Instituto Karolinska, na Suécia, feito com quase 2 mil pessoas com idades entre 45 e 70 anos e publicado na edição de setembro do periódico "Journal of Internal Medicine".

O efeito protetor do chocolate, segundo Johan Hallqvist e Anders Ahlbomos, os coordenadores da pesquisa, viriam dos flavanoides, um tipo de antioxidante que ajuda a diminuir a inflamação crônica nas artérias e melhora a circulação do sangue. Porém, os pesquisadores do Instituto Karolinska alertam que o chocolate é contraindicado para diabéticos e pacientes que precisam controlar a glicemia. Abusar do doce também pode ter o efeito contrário, já que os quilinhos a mais aumentam o risco de doenças cardiovasculares.

Na hora de comprar o chocolate amargo, o ideal é ficar de olho na embalagem. Para que o chocolate traga algum benefício ao organismo, a concentração de cacau deve ser de, no mínimo, 40%.

Fonte: O GLOBO

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Brasileiros descobrem pé de café naturalmente descafeinado


Novidade é guardada a sete chaves. Mudas são originárias da Etiópia, berço de todos os cafés.

ALBERTO GASPAR Campinas (SP)

Patrimônio plantado por mãos brasileiras. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) é do tempo do imperador Pedro II. Foi criado para estudar o café, que se expandia no país no século 19. Aos poucos, uma enorme riqueza foi sendo depositada na terra. Uma reserva genética de valor incalculável. Hoje são 120 mil plantas de café.

"Essa reserva genética permitiu que o Brasil chegasse ao patamar que chegou em termos de cafeicultura. O Brasil é o maior produtor, maior exportador e o segundo maior consumidor de café, graças, em parte, às variedades das plantas que mantemos em coleção", explica o pesquisador Oliveiro Guerreiro Filho, do IAC.

Beleza não é fundamental. Não importa se a planta tem porte de árvore ou é um arbustinho raquítico – qualquer uma pode esconder algo que os pesquisadores procuram, ou apenas surpreender visitantes. Quem já viu grãos de café com formato de carambola?

Pois foi vasculhando em um mar de cafés que alguém encontrou um tesouro: mudas de um café descafeinado pela própria natureza. A origem é a Etiópia, berço de todos os cafés. A descoberta, no Brasil, foi fruto de muita paciência.

"A palavra certa seria garimpar entre cerca de quase 3 mil plantas, procurando um material que fosse promissor para esse tipo de trabalho", diz a pesquisadora Maria Bernadete Silvarolla, do IAC.

Um lote de plantas que saiu da Etiópia passou pela Costa Rica e chegou ao IAC nos anos 70 foi o escolhido por estar mais perto das origens africanas. Foram mais de cinco anos em laboratório, testando os grãos de cada planta, medindo o teor de cafeína. A pesquisadora até pensou em desistir.

"Quando veio o resultado positivo, nem acreditamos. O café arábica normal tem em torno de 1,2% de cafeína nos grãos. Esse material tem em torno de 0,07 de cafeína nos grãos. É muito próximo de zero", constata Maria Bernadete.

A agulha encontrada no palheiro é um segredo muito bem guardado. A equipe do Globo Repórter não pode nem ver a planta original no campo, só as mudinhas clonadas a partir dela. Existe uma corrida mundial atrás do que Maria Bernadete já tem nas mãos.

"Existe um mercado para o café descafeinado constituído por aquelas pessoas que apresentam algum efeito colateral em relação à cafeína, ou seja, dores de cabeça, palpitações. É um café como qualquer outro, você não nota diferença nenhuma. As pessoas em geral dizem que o café descafeinado é diferente porque, aparentemente, o solvente tiraria algo além da cafeína que poderia fazer falta em questão de aroma e sabor. Sai alguma coisa além da cafeína. E aqui não", esclarece Maria Bernadete.

Gostoso, mas ainda longe de chegar aos supermercados. A planta não tem cafeína, mas também produz poucos grãos. Não seria bom negócio para o agricultor. O desafio agora é melhorar esse aspecto. Mais trabalho de pesquisa.

"Prevemos em torno de nove a dez anos de trabalho ainda", diz Maria Bernadete.

Vídeo: Página de Vídeos Blog Rio Alimentos

Fonte: GLOBO (G1)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Pesquisa avalia embalagem para doce e polpa de cupuaçu

Pesquisadores estudam interação de derivados da fruta com a folha-de-flandres

CARMO GALLO NETTO
Cupuaçu exposto em banca da Ceasa-Campinas: comercialização in natura fica comprometida em grandes distâncias (Fotos: Antoninho Perri/Divulgação)

A professora Célia Marina de Alvarenga Freire, do Departamento de Engenharia de Materiais da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, participa de pesquisa que estuda a interação da polpa e do doce de cupuaçu com embalagens de folha-de-flandres. Tudo começou com projeto de formação de docentes da Universidade Federal do Pará (UFPA), quando vários de seus profissionais de áreas envolvidas com estudos correlatos, como engenharia mecânica, engenharia química e engenharia de alimentos, vieram à Unicamp para atividades de doutorado. Embora o programa fosse específico da engenharia mecânica, foi possível desenvolvê-lo com profissionais de áreas afins por causa da interface que a engenharia de materiais tem com elas.

O trabalho em relação ao cupuaçu se iniciou porque uma das professoras da Engenharia de Alimentos da UFPA que veio para o doutorado queria desenvolver estudo envolvendo um produto regional. Como a professora Célia já tinha anteriormente orientado tese de doutorado para embalagens para palmito, sugeriu que se seguisse na mesma linha em relação a algum produto especifico da Amazônia.

Na pesquisa da interação entre produto e embalagem, procura-se saber qual o tempo de vida de prateleira e qual a corrosão que acontece na lata por ação do produto armazenado. O que se pretendia efetivamente avaliar era a adequação da embalagem a um determinado produto armazenado. A doutoranda envolvida na pesquisa escolheu o cupuaçu, que é uma fruta amazônica de alto consumo, de produção sazonal, facilmente perecível e que acumula grandes perdas porque as distâncias impedem sua exportação. Daí a idéia de embalar o produto.

Célia lembra que o estudo concentrou-se inicialmente na embalagem da polpa. O doutorado desenvolvido por Augusta Maria Paulain Felipe se deteve no “Estudo da interação produto embalagem em folha-de-flandres aplicado à polpa de cupuaçu”. O trabalho iniciou-se com a retirada da casca do fruto de cupuaçu, separação das sementes e a transformação da polpa em concentrado, como se fosse um suco. A polpa assim preparada foi embalada em latas de folha-de-flandres, que é uma folha de aço revestida de estanho, elemento relativamente estável, ou seja, capaz de resistir bem à corrosão e aos ácidos orgânicos, e não-tóxico. Augusta chegou à Unicamp para o doutorado já tendo realizado grande parte das pesquisas no Pará, embora lhe faltasse ainda elaborar os dados e cursar disciplinas.

Pesquisadores testam as embalagens (Fotos: Antoninho Perri/Divulgação)A ideia da embalagem de lata era facilitar a exportação da polpa, muito utilizada no preparo de suco, substituindo a embalagem de vidro, de quebra fácil e maior peso comparativamente às latas. Célia lembra ainda que houve uma época em que era possível encontrar, em Belém, a polpa em embalagens de folha-de- flandres, que desapareceram do mercado, muito provavelmente porque a alta acidez do produto atacava o metal.

Na embalagem da polpa, a pesquisadora utilizou lata de folha-de-flandres revestida com resina acrílica por recomendação do fabricante. Mas esse tipo de resina não se revelou adequado e o metal foi atacado principalmente na região da solda. De acordo com a pesquisadora Jozeti Gatti, do Ital, na região de solda o verniz deveria ser outro, e não o acrílico utilizado no corpo da lata.

Paralelamente ao estudo da embalagem da polpa, Célia e Augusta resolveram trabalhar também com a embalagem do doce de cupuaçu, muito apreciado no Pará, com o objetivo de agregar valor ao produto. O projeto foi montado com base na experiência adquirida no trabalho desenvolvido com a polpa. Para viabilizá-lo em sua totalidade, Célia ampliou as parcerias, passando a contar com a participação da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos FZEA/USP, campus de Pirassununga, e do Centro de Tecnologia de embalagens CETERA/IAL.

Multidisciplinaridade
Este novo projeto de pesquisa patrocinado pelo CNPq ateve-se ao estudo da interação entre a embalagem metálica e o doce de cupuaçu. Nesse trabalho de caráter multidisciplinar estão envolvidos, além da professora Célia, do Departamento de Engenharia de Materiais, da FEM da Unicamp; os docentes Maria Teresa de A. Freire e Rodrigo Rodrigues Petrus e vários graduandos do Departamento de Engenharia de Alimentos da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP de Pirassununga; a doutoranda Augusta, do Departamento de Engenharia Química e Alimentos da Universidade Federal do Pará; e a pesquisadora Jozeti Gatti, do Centro de Tecnologia de Embalagens – Cetea do Instituto de Tecnologia de Alimentos – Ital.

A USP de Pirassununga responsabilizou-se pela avaliação da qualidade das diferentes polpas de cupuaçu disponíveis no mercado consumidor e sua seleção para a elaboração do doce, pelo desenvolvimento da formulação, pelo processamento e envase e avaliação do produto final sob a ótica da composição física e química, da microbilogia e das características sensoriais durante todo o período de estocagem. A Unicamp estudou a corrosão e o Ital caracterizou a embalagem, determinando a espessura da camada de estanho, características do verniz aplicado, grau de secagem, porosidade dos materiais etc.

Constituíram objetivos principais desse estudo multidisciplinar: a adequação da embalagem metálica tem relação a duas diferentes espessuras de verniz ; a verificação da correlação entre os teores de metais que se dissolvem no produto e as características protetoras do verniz; a avaliação dos processos corrosivos decorrentes da interação entre embalagem e produto e das consequências decorrentes dos teores de ferro e estanho incorporados ao produto; e a verificação das alterações visuais na lata durante a estocagem e suas correlações com a vida útil do alimento.

O estudo teve ainda como objetivos adequar a formulação do doce de cupuaçu em relação ao teor de sólidos solúveis para acondicionamento em latas metálicas estanhadas e avaliar a influência da embalagem na estabilidade do doce de cupuaçu por meio de análise microbiológica, análise sensorial e análises físico-químicas.

A pesquisa
Embalado o doce, a Unicamp realizou várias aberturas de latas ao longo de tempo para avaliação do grau de corrosão da embalagem, utilizando técnicas eletroquímicas nas análises. O trabalho foi desenvolvido com a utilização de dois tipos de latas porque hoje, por razões econômicas, as indústrias de alimentos estão tentando reduzir a espessura da camada de estanho, passando gradativamente dos 2,8 para 2,0 gramas por metro quadrado. Por essa razão foram utilizadas latas produzidas com estas duas graduações. Além de passar a usar como revestimento o epóxi-fenólico, mais indicado na embalagem de produtos ácidos, o grupo de pesquisadores o utilizou em maior espessura na lata com menor camada de estanho e com maior espessura na lata com menor camada de estanho.
As análises de vida de prateleira foram feitas abrindo as embalagens a cada 30 dias, até que se completasse um ano, e verificadas em cada caso a corrosão das latas.

O desempenho das latas face ao processo corrosivo foi comparado à avaliação das características sensoriais do produto com ênfase aos aspectos aroma, sabor e impressão global para aquilatar o grau de aprovação do produto embalado e constatar eventuais modificações de sabor ao longo do tempo. O sabor foi aprovado e as latas se comportaram bem, embora, como na embalagem da polpa, o problema ainda fosse a região de solda, que precisa ser ainda trabalhada, mesmo considerando que os índices de ferro e estanho encontrados no produto sejam muito baixos, o que indica corrosão pequena.

A professora Célia considera os resultados interessantes porque mostram que durante um ano o sistema se comportou bem. Mas ela gostaria de estudar um pouco mais como se dá a interação da embalagem com o produto, qual o mecanismo envolvido e ainda testar outras latas como as de alumínio. Descobrindo o mecanismo de ação, diz ela, se pode resolver o problema ou apontar soluções e responder a várias perguntas. A melhora do verniz aplicado na solda resolve? Pode-se tirar o verniz aplicado sobre a folha-de-flandres? Ela lembra ainda que são poucos os estudos que tratam da interação produto embalagem e que demandam a utilização de técnicas de análise da corrosão, pois grande parte das pesquisas se atém à contaminação do produto por metais.

Na cooperação com a UFPA, ela destaca a experiência e conhecimento que a profissional envolvida no projeto adquiriu e poderá agora implementar em seu estado: “formamos uma pessoa que está levando o que aprendeu para o Pará, que está crescendo e precisa desse apoio. Esse, para mim, é o maior e melhor dos resultados”. Célia destaca que o trabalho mostrou a real possibilidade de agregar valor a produtos amazônicos, setor em que a região, embora revele um grande potencial, tem um longo caminho a percorrer.

Ela chama a atenção em particular para o caráter interdisciplinar da pesquisa, pois considera fundamental a participação do ITAL e da USP de Pirassununga, pois foram os estudos conjuntos que determinam a resposta final. A possibilidade de estabelecer parcerias com outras instituições de ensino e pesquisa fortalece as relações interdisciplinares e amplia o foco acadêmico da pesquisa. Porque, afirma Célia, “para aquilatar a validade do resultado que eu obtive aqui no laboratório, preciso conhecer muito bem a lata que recebi e as condições do produto embalado, o que seria impossível sem essa cooperação multidisciplinar. Se a lata não for bem fechada haverá interferência externa no processo de corrosão e na deterioração do produto, o que mascara o resultado que eu possa ter obtido no laboratório. Na verdade tudo está interligado e é esse conjunto de informações que sustentam meus dados sobre a corrosão”. Célia também enfatiza a importante colaboração das empresas do setor, particularmente a De Marchi, do segmento de frutas congeladas, que forneceu a polpa para o estudo e a Metalúrgica Mococa pela doação das latas metálicas.

Perdas pós-colheita chegam até a 50%

As frutas do cupuaçu por serem perecíveis têm comercialização in natura dificultada em grandes distâncias. Estima-se que as perdas pós-colheita variem de 15% a 50%, o que torna a produção de polpas congeladas adequada ao aproveitamento integral da fruta na época da safra, evitando os problemas ligados à sazonalidade.

Encontrado na Amazônia, o fruto do cupuaçu tem forma elipsóide e extremidades arredondadas, comprimento variando entre 12cm a 25 cm, diâmetro entre 10cm a 12 cm e peso de 0,5 a 4,9 kg, com média de 1,5 kg. A polpa é espessa, de cor branco-amarelo, muito ácida, sabor adocicado, mas com baixos teores de açúcar, e aroma agradável e bastante forte, propriedades que lhe conferem características únicas e que a fazem utilizada na confecção de néctares, compotas, iogurtes e doces. A fruta é considerada exótica e de grande potencial comercial nos mercados do Sudeste do Brasil e de países europeus.

Devido è elevada acidez da polpa do cupuaçu, cujo pH situa-se próximo a 3,2, a pasteurização seguida do enchimento a quente das embalagens são suficientes para assegurar a estabilidade comercial do produto.

Fonte: Jornal UNICAMP - Campinas, 29 de junho a 12 de julho de 2009 – ANO XXIII – Nº 434