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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Peixe rico em nutrientes e com poucas calorias custa R$ 0,50


ISABELA ASSUMPÇÃO Niterói, RJ

A boa notícia vem do mar, no arrasto de peixes caros, como a pescada amarela ou o peixe serra. O peixe chega a um entreposto de pesca em Raposa, no Maranhão, com nome de tibiro. Ninguém dá nada por ele ou quase nada.

“Na época que dá muito, é R$ 0,50. O máximo que chega é R$ 1 o quilo”, conta o pescador Eliasar Pereira Oliveira.

“Por ele não ter valor de mercado, normalmente, ele é comprado pela população de baixa renda”, explica o professor de oceanografia Antonio Carlos Leal de Castro, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

O pescador Eliasar Pereira Oliveira revela que come o tibiro, assado, cozido ou frito. “Não sei nem entender, porque o pessoal não gosta muito de tibiro, porque é um peixe gostoso. O pessoal gosta mais é de pescada, serra, esses peixes mais caros, porque o barato ninguém gosta”, ressalta.

Mas a nutricionista Thaís de Oliveira Fernandes, da UFMA, descobriu que o peixinho tão desprezado vale ouro. “O tibiro apresenta teores de ferro até 18 vezes maiores do que os teores de ferro da pescada amarela, e teores de zinco 15 vezes maiores do que os teores de zinco da pescada amarela. Nós pudemos observar que a espécie que não é valorizada possui um valor nutricional maior do que as que são muito valorizadas”, aponta. “Esse que é mais rico é mais barato e ninguém liga para ele”.

É possível economizar muito trocando a pescada pelo tibiro. De acordo com a pesquisa, para comprar tibiro, seria preciso gastar em média R$ 1,60 por mês, para cada pessoa da família. Para quem só come pescada amarela, o custo mensal por pessoa sobe para quase R$ 14, quase dez vezes mais, o que representa um rombo no orçamento de famílias que têm, pelo menos, seis ou sete pessoas.

E esse peixe tem mais uma vantagem. “O tibiro apresentou valor calórico relativamente baixo, considerando as outras espécies. A pescada amarela apresentou, aproximadamente, 170 quilocalorias por 100 gramas. E o tibiro apresentou 95 quilocalorias por 100 gramas”, explica Thaís. Representa quase metade do valor calórico.

O tibiro é barato, nutritivo, não engorda. Será que é gostoso? A repórter Isabela Assumpção decidiu experimentar. O comerciante Silas de Jesus da Rocha vai assar o peixe na churrasqueira. A nutricionista da UFMA aprova. “O pessoal nativo gosta muito dele, o pessoal de fora, não. A procura é pela pescada e pela anchova”, afirma Silas.

“É um peixe que tem a carne tenra, semelhante à da pescada, com qualidade nutricional muito boa e que pode oferecer uma possibilidade para a população de baixa renda. É uma rica alternativa de nutrição de alimento de alta qualidade”, recomenda o professor de oceanografia Antonio Carlos Leal de Castro.
Mas esse peixe não existe só no litoral maranhense. “Tem em outros lugares também, mas com nomes diferentes. O nome científico dele é Oligoplits palometa que é o tibiro amarelo conhecido no Maranhão.

Mas, na região Sul e Sudeste, ele é conhecido como guaivira. No Ceará, é conhecido como tibiro de couro. No Pará, é conhecido como tilbiro. E na região da Amazônia, conhecido como pratiúra. É o mesmo peixe, com nomes vulgares diferentes”, explica o professora da UFMA.

O Porto de Jurujuba faz parte da colônia de pescadores de Niterói, no Rio de Janeiro. A produção no local é grande. Chegam, em média, 40 toneladas de peixe por dia. E olha quem veio na rede: o tibiro, que no Rio é chamado de guaivira ou guaibira. Como no Maranhão, em Niterói, ele também é baratinho. Sai a R$ 1 o quilo.

Mas, será que as pessoas sabem o quanto ele vale? “Que coisa linda filé branquinho, sem espinha nenhuma. Aqui, ele não tem valor. Depois de ele virar esse filé, ele tem um alto valor”, conta o pescador Ademir José dos Santos. “Ele é vendido embalado, em uma vasilha de isopor, com papel celofane. Depois, vai para a mesa de vocês como filé de peixe. Mas esse filé embalado chega ao mercado até a R$ 14, R$ 15 o quilo”.
Mas, no mercado, não é fácil achar nem o filé. A advogada Beatriz Lourival afirma que não compra nem conhece o guaibira.

O vendedor Mário Bruno revela que a freguesia procura muito cherne, namorado, badejo, e que o guaibira não é bem conhecido.

Médicos e nutricionistas insistem que é preciso comer peixe pelo menos duas ou três vezes por semana. Mas a maioria dos peixes ainda sai caro.

Um grupo de jovens está aprendendo a preparar e comer peixes e conta que a ideia veio da empresária Suzi Niv. Ela organizou um curso para formar auxiliares de cozinha especializados em comida japonesa, mas a maioria nem gosta de peixe. E a grande saída é mesmo a sardinha. “Eu como bastante sardinha. Minha mãe sempre compra”, conta o aluno do curso Luciano Assis.

Peixe frito, tudo bem. Para serem craques da comida japonesa, eles têm que experimentar o peixe cru. Afinal, estão aprendendo a profissão. “Além disso, vou poder nutrir minha família e orientar a comer com saúde”, afirma o aluno do curso Reinaldo Madeira.

“Eles têm que ter o conhecimento. Tem outros peixes que são mais em conta que eles poderiam botar no cardápio deles. De repente, por que não um sashimi de sardinha?”, ressalta Suzi.

“A sardinha tem um teor de proteína considerado elevado. A sardinha é uma fonte de lipídio, de gordura, chamado ômega 3, que a gente chama, vulgarmente, de boa gordura”, explica a professor de bioquímica Glaucia Pastore, da FEA/Unicamp.

Um mês depois do primeiro encontro com o Globo Repórter, a repórter Isabela Assumpção voltou ao curso para formar auxiliares de cozinha especializados em comida japonesa, para saber o que os alunos aprenderam sobre a arte da culinária japonese e, principalmente, sobre peixes.

A sardinha entrou no cardápio. Crua, empanada ou no macarrão oriental, o yakissoba, ela dá um show.

Fonte: Globo Reporter

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